29 de dezembro de 2010

Ter. 23:21 - 23:51

Café novo. Este café, em Coimbra, é suposto ser o café por excelência dos intelectuais. É normal ver aqui montes de gente com portáteis ou livros para ler. Hoje, porém, a esta hora, não foi isso que me calhou na rifa. O café está a abarrotar de gente, em grupos de entre duas e sete pessoas, tudo à conversa. Com seis mesas à minha volta com gente que facilmente olha para o que eu estou a fazer, não é de admirar que me sinta um bocadinho intimidado. Não é normal ficar intimidado quando escrevo, que eu me lembre só me aconteceu uma vez, quando o café estava a abarrotar de gente e era tudo famílias com putos (foi quando falei que tinha ganho estatuto de observador, se quiserem vão ver. Não falo do assunto, mas como verão não escrevi muito.). Ok, digam-me o que acham disto como técnica de engate (não se riam já): olhar sempre para a mesma pessoa enquanto escrevo, dando-lhe a impressão de que estou a escrever sobre ela. A ideia é que ela se aperceba disso e, das duas uma, ou faz cara de má ou de lisonjeada, e nesse caso curiosa pelo que eu estou a escrever. Talvez funcione só se fizer isso vários dias com a mesma pessoa. De qualquer forma, não me sinto ainda intere... já não sei o que ia a dizer. O casal ao lado está no engate. Ao contrário do outro casal ao lado, não se acariciam de vez em quando, mas ambos têm as mãos em cima da mesa, provavelmente na esperança de se tocar inadvertidamente. Acho um piadão a estas coisas. Tocam-se no ombro de vez em quando, aquelas palmadas de amigos mas que na realidade os amigos nunca dão. Ela olha para ele como se não percebesse a nada do que ele estava a dizer mas também não lhe interessasse minimamente. As mãos em cima da mesa... que pormenor estúpido, mas que faz todo o sentido! Será que é inconsciente? Não tenho a certeza mas acho que me lembro de ter feito isto em tempos. O toque subreptício e involuntário das mãos era electrizante... Se a memória não é inventada, lembro-me simplesmente de experimentar a sensação de contacto com a outra pessoa, e de querer experimentá-la, mas não me lembro de pensar que, ao fazer o mesmo que eu, ela poderia estar a sentir, a pensar o mesmo que eu. Incrível. Esta noite promete, para estes dois.

27 de dezembro de 2010

Seg. 14:58 - 15:28

E pronto, passou-se o Natal sem que eu escrevesse nada. O problema com o Natal e o blogging é que nesta época parece que é obrigatório que qualquer post seja sobre o Natal. Se escrevemos uma história normal parece que não se ajusta à quadra. Eu acabei inconscientemente por atrasar o próximo artigo do blog oficial porque não o queria transformar num post de Natal. Não é difícil, basta acrescentar coisas como "era véspera de Natal quando..." ou "estava nas compras de Natal quando..." e está feito. Aliás, a mesma facilidade é aplicada às músicas: não sei se já repararam, mas peguem numa música qualquer e acrescentem sinos a tocar por trás. E pronto, fica automaticamente convertida numa música de Natal! Gostava de ouvir, por exemplo, tipo, Moonspell, com sinos por trás. Era capaz de ficar giro. Bem, a minha indignação do dia de hoje é: não ter recebido chocolates pelo Natal. Ou devem achar-me muito fino para receber chocolates ou então substituíram-nos por garrafas de vinho e licor, que de repente passou a ser o presente banal por excelência para homens, sendo os chocolates reservados para as mulheres. Não é que não desgoste das garrafas de vinho, mas por norma não compro chocolates para mim e também gosto de os comer, por isso não era mau que mos oferecessem... Bem, além de vinho recebi livros, roupas, um jogo e um dvd que já tinha visto e tenho de trocar. Curiosamente recebi apenas um dos itens da wish list do meu blog oficial. Nem sei para que é que a tenho, quando afinal toda a gente me vem na mesma perguntar o que é que eu quero para o Natal. Suponho que ficará para memo pessoal. Em tempos escrevi no blog oficial (depois apaguei) que a wish list era uma boa maneira de conhecer uma pessoa. Faz algum sentido porque conhece-se melhor uma pessoa sabendo o que ela lê ou vê na televisão, e também pelo que ela quer ter. O problema em geral é que assim parece que a pessoa é muito materialista e que só lá tem a lista para que lhe ofereçam essas coisas. O problema da minha wish list em particular: está cheia de jogos Wii. E jogos Wii são caros, e por isso difíceis de oferecer. E então os outros artigos vão saindo da lista, mas os jogos permanecem, dando a ideia de que não quero mais nada da vida senão jogos. E não, não é essa a ideia.

22 de dezembro de 2010

Qua. 14:44 - 15:14

Havia muito mais para falar de ciência e religião e livros escritos há milhares de anos mas para já vou ficar por aqui. Mais tarde voltarei à carga. Normalmente nos meus registos tenho tendência para me indignar com as coisas (o blog oficial é quase um compêndio de indignações) e por vezes tenho a necessidade de lighten up e take it easy. Ontem estive a tomar conta da minha sobrinha de um ano e notei uma coisa engraçada nos bebés. Parece ser um facto que a primeira palavra que eles dizem é efectivamente mamã (ou mais raramente, papá). Mas acho que é um engano os pais pensarem que a criança chama por eles, só porque eles repetiram essas palavras tantas vezes para ela. It's the other way around. Ou seja, para compreendermos isto temos de pensar exactamente do ponto de vista contrário. O Stephen Hawking (e outros, decerto) fala nos seus livros de um princípio antropológico, ou antropomórfico, já não me lembro bem do nome. É um princípio que se deve ter em conta quando fazemos perguntas como porque é que o Universo é como é, porque é que tem estas leis da física, porque é que permite a existência de vida, em suma, porque é que tem condições tão perfeitas para a nossa existência (isto tem um pouco mais de background, mas para já basta saber que se algumas constantes absolutas do Universo variassem em uma milionésima que fosse, o Universo como nós conhecemos já não existiria - e nós também não). E a resposta é que só essa conjuntura é que permitiu a existência de seres pensantes como nós que questionam o Universo. Isto é o mesmo que considerar que existem ou existiram uma infinidade de Universos, grande parte deles sem qualquer possibilidade de albergar vida, e por acaso um deles produz seres humanos, e esses somos nós. Temos de pensar ao contrário, nós não existimos porque o Universo é assim, o Universo é assim porque nós existimos. Da mesma forma, voltando aos bebés, se calhar o papá e a mamã chamam-se papá e mamã precisamente porque são essas as primeiras sílabas que o bebé consegue articular. Foi assim que os nossos antepassados lhes puseram o nome. Com a evolução dos tempos já nos esquecemos do que pai e mãe querem dizer e então imaginamos que o bebé começa a chamar pela mãe quando diz "mamamamama". Mas depois não estranhamos quando ele diz outras coisas que para nós são incompreensíveis (por exemplo, "aaaa... bu!"). Na mente da criança na verdade passa-se outra coisa: primeiro começa a dizer coisas sem significado como "mamamamama" e "papapapapa" e só mais tarde, depois de tanto ouvir coisas como "sim, a mamã já vem" é que pensam "espera, então aquela coisa que eu andei a dizer que não tinha sentido nenhum afinal é o nome daquela senhora que me vem consolar quando eu choro? Uau, que coincidência!" Por isso, papás e mamãs, da próxima vez lembrem-se que não foram vocês que ensinaram os vossos nomes aos vossos filhos: eles é que os ensinaram a vocês.

18 de dezembro de 2010

Sáb 11:37 - 12:07

Para clarificar o que quero dizer com a minha desconfiança dos produtos naturais: não defendo que se deva sempre preferir os produtos sintéticos em detrimento dos naturais, mas acho que se deve ter um olhar crítico para os produtos ditos naturais, tal como se tem para os sintéticos. A minha segunda desconfiança é em relação a livros que já foram escritos há milhares de anos e hoje são tidos como dogmas. Para já, e isto é um aparte em relação ao que quero dizer, e facto de acreditarmos em coisas que já foram escritas há dois ou três mil anos fazem de nós uns burrinhos. Quer dizer que todos os sábios viveram naquela altura, e temos vindo a emburrecer desde então, porque afinal a verdade está toda nesses textos e não precisamos de aprender mais nada. Fim do aparte. Faz-me confusão que uma pessoa nos dias de hoje com um problema por resolver vá buscar a resposta a esse problema à Bíblia, ao Talmud, ao Alcorão ou a outro livro do género. Como é que acham que podem comparar a realidade de há dois mil anos com a realidade de agora? É que a ideia de que um texto é bom e actual só porque persiste ao longo dos tempos sem se modificar é completamente errada. O texto persistiu ao longo dos tempos não porque sempre esteve certo, mas porque ninguém teve a coragem de o questionar. A principal diferença entre a ciência e a religião é que a ciência se baseia na premissa de que qualquer teoria, qualquer explicação dada por nós para o estado actual do Universo, está à partida errada, que pode e deve ser refutada ou confirmada. Ao longo da história da Ciência todas as grandes teorias científicas, aquelas que são dadas na escola, foram refutadas. Kepler provou que Copérnico estava errado, Galileu provou que Kepler estava errado, Newton provou que Galileu estava errado, Einstein provou que Newton estava errado. E Hubble e outros provaram que Einstein estava errado. Sim, claro que todos estes acertaram alguma coisa, cada um deles deu o seu contributo para que ficássemos mais perto da verdade. Mas o que disseram não são dogmas, não são verdades absolutas. É assim que devia ser.

1 de dezembro de 2010

Qua. 11:55 - 12:25

O meu professor de ioga acredita mais na espiritualidade do que no método científico. E até goza um bocado com este, dizendo que nós precisamos de ouvir que alguma coisa está "cientificamente provada" para podermos acreditar nela. Suponho que para ele a medicina ayurvédica seja mais eficaz do que a medicina convencional, moderna e tecnológica. Tudo bem, não esperaria outra coisa de um professor de ioga. Mas irritou-me um bocado quando um dia destes ele se insurgiu contra os micro-ondas. Chegou a fazê-lo até num tom de ameaça e ironia, dizendo "Bem, eu não tenho micro-ondas em casa, agora vocês é que sabem, se quiserem morrer mais cedo..." Uma coisa é desconfiar de algo de tecnologia superior só porque não se sabe muito bem o que acontece lá dentro (ena, mete-se lá dentro, carrega-se num botão e aquilo aquece sozinho! Magia!), outra coisa é evangelizar essa desconfiança, esse medo do desconhecido, para um grupo de 30 pessoas. Está mais que provado (sim, "cientificamente" provado, acreditem ou não), que a radiação de micro-ondas não tem qualquer efeito nocivo sobre a comida, a não ser o efeito óbvio de a aquecer, por vezes demasiado se não tivermos cuidado. Para quê essa necessidade de assustar as pessoas? Imaginem que era ao contrário, que o micro-ondas já se conhecia há milhares de anos e que só agora se descobria que se podia cozinhar a comida num forno a gás. O que não diriam dos efeitos nocivos do gás sobre a comida, do calor excessivo, do potencial cancerígeno da comida esturrada... O fogo azul seria certamente obra do Diabo! Há duas coisas de que costumo desconfiar, no que toca a estas coisas da natureza e da espiritualidade. Primeira, o abuso da palavra "natural". Aceita-se tudo o que é natural e rejeita-se tudo o que é manipulado pelo homem. As lojas de produtos naturais apregoam-se a si próprias e aos seus produtos com o chavão do natural, dizendo subliminarmente que há uma forte probabilidade de que estes produtos não resultem (e assim convencendo os clientes a aceitar que assim seja), mas também não fazem mal a ninguém, porque são naturais. Sabem o que é que também é natural? Cannabis, que usada de forma errada pode alterar o estado mental, provocar alucinações e dependência. Sabem o que é que também é natural? Cogumelos venenosos, que basicamente matam quem ingerir nem que seja uma pequena porção. Depois esquecem-se que grande parte dos medicamentos é também baseada no que se encontra na natureza, eles simplesmente se limitam a retirar o que não interessa. E existem produtos como as delícias do mar que são totalmente sintéticos (embora baseados em produtos naturais) e, afinal, até fazem bem.

25 de novembro de 2010

Qui. 21:18 - 21:48

Consegui! Apesar do frio que antecede a respectiva vaga que os meteorologistas "dão" para os próximos tempos, consegui arranjar forças para vir até ao café. Parece que a meia hora de escrita ainda vai sobrevivendo, apesar de aparecer menos vezes. A caminhada ao frio é revigorante, é uma forma saudável e económica de aquecer, sem usar lareiras nem aquecedores. Apesar de me ter arrastado até cá, hoje não tenho assunto, a caminhada não me inspirou assim tanto (terá sido por causa do frio?) e até estive para não puxar do moleskine e da caneta, mas de que outra forma me podia aguentar mais de cinco minutos no café? A escrita nos cafés até tem as suas vantagens. Não tendo mais nada para dizer, resta-me descrever a paisagem, tanto aqui como na caminhada que se antecedeu. Aqui o ambiente é excepcionalmente calmo, só o empregado do café e uma rapariga no outro canto da sala que tecla furiosamente no portátil. De vez em quando sorri enquanto escrever, por vezes numa quase micro-expressão digna da série Lie To Me. Gosto de ver pessoas que sorriem quando estão sozinhas, ou neste caso em frente a um monte de letras mas sem uma pessoa física com quem possam conversar. Os sorrisos solitários são completamente genuínos, porque não há ninguém à volta a quem os dirigir, ninguém que esteja lá para os julgar. As pessoas sozinhas não têm propriamente incentivos para sorrir, não estão a tentar agradar a ninguém, não têm a necessidade de mostrar a ninguém que estão contentes, e por mais sincero que seja um sorriso entre amigos, essa sinceridade não se compara à de um sorriso solitário. Por isso, resta-me deduzir que se as pessoas sorriem quando não está ninguém a ver, é porque se sentem realmente felizes nesse momento. E isso é de admirar. Moving on: parece que há outra sala onde as coisas estão mais animadas, porque o pessoal que aparece vindo de lá fala como se estivesse na discoteca. Mas quando não estão, o silêncio é total (descontando a música de fundo) e eu quase apostava que a menina sorridente do outro lado da sala me ouviu a colocar o açúcar no café. As noites frias são assim: tudo muito calmo, pouca gente na rua, mas ainda alguma; pessoas que passam por nós e dizem boa noite, mesmo sem nos conhecer de lado nenhum. Menos carros na estrada, menos barulho na rua, mais velocidade nas pernas para aquecer. O meia hora de escrita de Inverno é isto, meus amigos.

21 de novembro de 2010

Dom. 11:30 - 12:00

Aqui está outra primeira vez na história deste blog. Ontem o empregado de mesa do café meteu-se comigo por causa da minha escrita. "Vê lá, não escrevas muito, hã?" Achei piada. Fez-me lembrar os empregados de mesa chicos-espertos, aqueles que dizem "copo de água, ou copo com água?" Mas devo dizer que a chico-espertice não é exclusiva dos empregados de mesa. Para já, também há clientes de restaurante chicos-espertos. São aqueles que dizem, no final da refeição, "É páááá, estou aqui tão bem que nem me apetece pagaaaarrrr!" Das primeiras vezes que alguém disse isso, há 20 ou 30 anos atrás, até tinha piada. Agora é só chico-espertice. Depois há um tipo de pessoas que são naturalmente chicos-espertos, independentemente da sua profissão. São aqueles que fazem trocadilhos com tudo, tantas vezes que se torna inconveniente. Com estas pessoas não se consegue ter uma conversa normal, porque eles fazem trocadilhos com coisas com banais como falar do tempo (por exemplo, "Hoje está bom mas deram chuva para amanhã" - "Dar não deram, devem é tê-la emprestado"). Eu admito que eu próprio tenho a minha dose de chico-espertice, mas é porque a minha pseudo-Asperger me faz levar as expressões à letra e sim, vejo trocadilhos onde os outros não vêem. Já tinha escrito no blog oficial que um programador como eu, se o abordarem na rua e perguntarem "Tem horas que me diga?", pode simplesmente responder "Tenho" e ir-se embora. Talvez eu não seja inconveniente a esse ponto, mas é porque já percebi que a maior parte das vezes as pessoas não entendem, e é frustrante estar a explicar a piada. Por exemplo, na expressão escrita irritam-me os erros de ortografia dos outros, e se, por exemplo, alguém me perguntar no messenger "Então, já chegastes?" eu posso responder "Sim, já chegámos." Mas depois do outro lado perguntam "Já chegaram? Então quem é que está contigo?" e eu tenho de explicar que sou só eu, e que só escrevi "chegámos" em vez de "cheguei" porque na pergunta escreveram "chegastes" em vez de "chegaste". É frustrante. Mesmo assim, às vezes ainda o faço, porque os erros de ortografia, ainda mais os que são feitos de forma sistemática, irritam-me solenemente. E nem me façam falar do "fizes-tracinho-te" que é provavelmente o erro ortográfico mais irritante da história da língua portuguesa. Têm vocês muita sorte porque a meia hora acabou, senão...

20 de novembro de 2010

Sáb 13:32 - 14:02

Ontem fiz uma coisa. Acho que perdi a cabeça, as memórias estão meio enevoadas porque ainda não consegui descobrir como aquilo aconteceu. Ontem estive num bar com um grupo de pessoas, bebi uns copos, dancei um bocado, cheguei a casa às quatro da manhã, meti-me no Facebook e convidei uma rapariga para sair. E mesmo agora que leio o que acabei de escrever só me apetece perguntar-me a mim mesmo, are you out of your mind? É a primeira vez que faço isto, convidar uma rapariga para sair, sem sequer a conhecer muito bem, sem estar obcecado por ela e sufocado pela minha obsessão. A minha pseudo-Asperger ainda não me permitiu que o fizesse directamente no bar, teve de ser pelo Facebook, suponho que a abordagem directa esteja num nível mais avançado. Bem, e agora que está feito, estou oficialmente aterrorizado. Passam pela minha cabeça as milhentas coisas que podem acontecer a seguir, e o que me mete mais medo não é a possibilidade de ela responder que não, porque nesse caso volto para o meu mundinho, onde sei onde está cada coisa, e porque é suposto que eu falhe muitas vezes antes de conseguir acertar. Não, o meu medo é se ela diz que sim, oh meu deus, se ela diz que sim o que é que eu faço? O que acontece a seguir é uma incógnita, não o consigo prever, não o consigo antecipar. É o medo do desconhecido que dá cabo de mim. Pode até chegar a destruir aquilo que eu sou neste momento. Se o João das relações entrar por aquela porta, ele matará o João independente. Os mundos colidem! O pior é que ainda por cima acho que até tenho boas hipóteses. O ambiente no bar estava muito bom, a mensagem era simples, gira e straight to the point... mas nestas coisas de mensagens escritas também acho sempre que sou melhor do aquilo que sou. Afinal, as estatísticas estão aqui para me derrotar, tens de tentar várias vezes, tens de falhar várias vezes antes de conseguires acertar. Quer dizer, ninguém consegue uma coisas destas na primeira vez em que tenta, certo? Certo? Bem, resta-me dizer que a desvantagem de usar o Facebook para este tipo de coisas é a espera. Quer dizer, sabe-se lá quando ela vai ver a mensagem, sabe-se lá se vai responder sequer, enfim, alea jacta est, vini, vidi e espero que vici, e ave cesar morituri te salutant.

14 de novembro de 2010

Dom. 12:03 - 12:33

Chegou o frio e a chuva e está a tornar-se cada vez mais difícil sair à rua para escrever. Não tenho tido grandes hipóteses, a chuva impede-me de ir caminhar para a rua, e o frio fomenta a preguiça. Já para não falar de que, mesmo estando bom tempo na altura em que saio para a rua, não imaginam o quão drasticamente o tempo muda em meia hora, saio de casa com um sol radioso ou uma noite estrelada, e volto para casa todo molhado. Com isto tudo já pensei em quebrar uma das duas regras que ainda se mantêm neste blog, a de só escrever em sítios públicos, mas para já ainda me vou aguentando. O tema de hoje é: pessoas que eu conheço de algum lado mas não sei de onde. Já é a segunda vez que isto me acontece, eu conhecer a pessoa mas por mais que tente lembrar-me de onde é que a conheço não consigo. Não é nada mais que natural, vivendo numa cidade pequena como Cantanhede, frequentando os mesmos sítios, há algumas caras que aprendemos a reconhecer, mesmo que nunca tenhamos sido formalmente apresentados. O problema é que, tirando essas pessoas dos locais onde normalmente as vemos, tirando-as do seu próprio contexto, ficamos desnorteados, a cara é familiar mas sem o respectivo contexto não podemos fazer mais nada com essa informação. E às vezes não é só o local onde as vemos que nos permite reconhecê-las, por exemplo as empregadas do restaurante onde eu vou almoçar ficam quase irreconhecíveis depois de despirem o uniforme e soltarem o cabelo. O meu primeiro caso foi uma nova caixa do supermercado que me reconheceu e me disse olá. Raios me partam, eu conhecia a rapariga, mas de onde? Percorri mentalmente todos os sítios que costumo frequentar, e cheguei a pensar que ela fazia parte do grupo de pessoas que fizeram o crisma comigo. Só depois de ver a foto de grupo do crisma e constatar que ela não estava lá, comecei a pensar noutras hipóteses e então lembrei-me que ela tinha trabalhado na pizzaria do qual sou frequentador mais ou menos assíduo. Quanto ao meu segundo caso, bem, não há muito a dizer, reconheci-a no ioga, e acho até que ela me reconheceu também, mas, apesar de ter várias hipóteses, ainda não consegui descobrir de onde é que a conheço. Neste caso, não vejo outra hipótese senão perguntar-lhe directamente...

13 de outubro de 2010

Ter. 22:59 - 23:29

As meias horas de escrita não têm um título propriamente dito, mas se tivessem, o desta meia hora seria O Emulador de Sentimentos. Hoje tive de reler o livro de NLA e fazer um pouco de pesquisa antes da escrita (quebrando mais uma vez as regras do blog? Oops...) para não vos induzir em erro sobre o Síndroma de Asperger. No entanto, apesar de tentar ser o mais exacto possível, estou a dar a minha impressão pessoal do síndroma, e posso estar a cometer uma carrada de incorrecções. Na dúvida, consultem o livro original. Para contentar o psicólogo, digamos que eu tenho traces, vestígios de SA (andei a evitar a sigla, mas realmente é mais prática). No meu caso talvez não a considere tanto uma doença mas uma característica, que pode dar-me alguns problemas mas também vantagens, como a apetência pela programação, por exemplo. O que é isso do emulador de sentimentos, afinal? Primeiro tenho de tentar explicar o que é um emulador. Quem joga jogos de vídeo já deve ter ouvido falar. Basicamente um emulador é um programa que se instala numa máquina (tipicamente um PC) para a fazer comportar-se como se fosse uma máquina diferente (como uma consola de jogos ou um telemóvel). O resultado é que assim podemos jogar os jogos da consola no PC, mas a conversão nem sempre é perfeita: no PC os jogos tornam-se mais lentos, os gráficos não têm a mesma qualidade, o controlo da personagem não é bem o mesmo. Por outras palavras, não é uma consola, é apenas um PC a fingir que é uma consola. Tentando ser um bocadinho menos técnico, pensem num matemático que não pode usar a multiplicação nas suas contas. Ele consegue chegar ao mesmo resultado usando sequências de somas, mas dá muito mais trabalho. Tentando ser menos técnico ainda, digamos que é o equivalente de caçar com gato quando não se tem cão. As pessoas com SA não conseguem expressar os seus sentimentos directamente, como fazem as outras pessoas. Em vez disso, usam um emulador: conseguem exprimir o sentimento na mesma, mas não é bem igual, parece estranho, demora mais tempo. Ao mesmo tempo, a sua percepção dos sentimentos dos outros passa pelo mesmo emulador, e por isso a informação que chega vem meio codificada, com algumas falhas, difícil de entender. A grande falha das pessoas com SA reside na interacção com as outras pessoas, e por isso muitos deles dão mais atenção às coisas (como os já referidos computadores e consolas), que no seu entender são mais lógicas e fáceis de perceber. O melhor exemplo (ou pelo menos o mais caricato) que posso dar para perceberem como actua uma pessoa com SA é o Sheldon de The Big Bang Theory. Mas segundo NLA, o próprio Mr. Bean encaixa-se numa das versões menos pesadas do síndroma. As versões mais duras entram já no campo do autismo, das quais o protagonista do filme Rain Man é o exemplo mais sonante, mas ainda assim um dos casos menos graves. Na outra ponta, a dos casos vestigiais, temos eu, um tipo perfeitamente normal que só tem um bocadinho, um bocadinho de nada de problemas de interacção social... No fundo, suponho que depende da qualidade do emulador...

7 de outubro de 2010

Qui. 21:33 - 22:03

Dediquei parte das férias passadas a ler o livro "Mal-entendidos", de Nuno Lobo Antunes. Trata-se de um guia sobre as perturbações psicológicas mais comuns em crianças e adolescentes, como dislexia, síndroma de Asperger e hiperactividade. É um livro interessante para pais e professores, não só para perceberem os próprios filhos mas os colegas destes, compreender e aceitar as diferenças entre os miúdos. Eu não tenho filhos nem alunos mas também achei o livro muito interessante, especialmente por explicar com algum detalhe o Síndroma de Asperger com o qual me identifico. Já agora, O Síndroma, ou A Síndrome? E porque é que Síndroma, que acaba em a, é masculino? Enfim. O psi diz que eu não o tenho, com a desculpa de que a Asperger's é em parte genética, e o meu caso parece ter origem quase exclusivamente ambiental. No entanto a mim parece-me que ele está a mentir um bocadinho, e até o compreendo se o fizer. Talvez esteja a tentar evitar que eu me "auto-medique", até porque é de certa forma um conforto sabermos que aquilo que sentimos (ou neste caso, deixamos de sentir) tem um nome, que há outras pessoas na mesma condição e que há um grupo de especialistas que se dedicam a estudar o assunto. É fácil identificarmo-nos com a doença depois de reconhecermos alguns dos sintomas, e o perigo vem quando chegamos ao médico e dizemos "acho que devo ter a Doença de Meireles, porque sinto isto e isto e isto" (ouça lá, quem é que é o médico aqui?). Também acho que é a forma dele me dizer que o meu caso não é assim tão grave, mas isso não interessa para uma doença - atenção, não é doença, é uma perturbação, ou um desvio psicológico, eles têm um nome técnico para isso, eu é que não me lembro - que tem vários níveis de severidade, ainda mais sendo as mais severas denominadas por autismo, no meu caso sei que estou num estado menos severo, uma versão light se quiserem, mas acredito que tenho a coisa, o síndroma. Muitas das características da Asperger's estão na forma como me comporto. Sobre as características tenho de falar noutra ocasião, que esta meia hora já se foi.

5 de outubro de 2010

Ter. 15:41 - 16:11

Com esta cena da escrita ultimamente ganhei estatuto de observador. Ando mais atento ao que se passa à minha volta, aprecio as paisagens, tento ver a expressão das pessoas, saber o que estão a sentir. É curioso verificar que são muito poucos os observadores como eu. Toda a gente parece muito stressada, muito preocupada apenas consigo própria e com a pessoa que tem à frente. Vejo-me sentado num café apinhado de gente onde pareço ser a única pessoa que olha em volta. Engraçado como se consegue ignorar uma sala cheia de gente. Não é nada do outro mundo, bem visto, eu próprio sou assim por vezes, mas não deixa de ser curioso. Os apologistas do romantismo dizem que devemos parar de vez em quando e olhar em volta, apreciar a vida, ver como é bela, dar graças pelo que temos. Eu não sou tanto assim, acho que não temos necessidade de olhar à nossa volta se estivermos satisfeitos com a pequena percentagem do mundo que queremos ver. Apesar disso, todos temos os nossos momentos de stress e tristeza, pelo que de vez em quando todos acabamos por olhar em volta e apreciar a vida, quanto mais não seja para podermos acreditar que o Universo é infinito e por isso é quase impossível que estejamos sós na nossa tristeza. No entanto, o meu estado de observador não é devido a stress ou tristeza, é devido à necessidade de compreensão da natureza humana, e à incessante procura por seres semelhantes a mim, observadores por excelência, que partilhem a minha curiosidade e a minha falta de compreensão. Pode parecer estranho porque alguém com a mesma falta de compreensão que eu não parece que me vá ajudar a compreender. Mas na verdade ajuda, tal como duas pessoas que estudam juntas para o mesmo exame, temos o conforto de ter outra pessoa ao mesmo nível que nós, e por cada coisa nova que aprendemos vamos ensinando o outro, de onde a aprendizagem resulta mais progressiva e natural. Não é de admirar que o conceito do brainstorm seja tão eficiente, afinal é da confrontação e discussão de ideias que se descobrem coisas novas, uma pessoa sozinha só consegue idealizar até certo ponto, até um génio como o Dr. House precisa dos seus assistentes para poder confrontar as suas ideias e estimular a mente.

4 de outubro de 2010

Seg. 17:14 - 17:44

OK, porque é que é uma em 20000 pessoas, e não uma só? Bem, não acham demasiada coincidência que toda a gente encontre a pessoa mais importante do mundo, para si, nas pessoas que conhecem? É legítimo pensar que provavelmente existam pessoas com as mesmas características no conjunto de pessoas que nunca viremos a conhecer. É como acreditarmos que o Universo é demasiado grande para albergar apenas um planeta com vida, apesar de ainda não termos encontrado nenhum planeta com vida além do nosso. Aliás, neste momento acredito que é até muito mais fácil que isso. Além do simples facto de afinal não conhecermos 20000 pessoas ao longo da vida, mas um bocado menos, mesmo nas pessoas que conhecemos conseguiríamos encontrar três, cinco, dez pessoas da nossa vida. E mesmo existindo a possibilidade de, nessas dez, uma delas ser melhor que as outras, na realidade não podemos testar essa possibilidade, primeiro porque estamos sujeitos à disponibilidade e interesse das pessoas envolvidas, e depois porque estando nós na presença de uma dessas pessoas "perfeitas", é com essa que ficamos, não fazemos nenhum "teste comparativo" nem nada do género. Mas com isto voltamos à questão de há dois artigos atrás, de entre as quatro raparigas de um mesmo grupo, qual seria a pessoa ideal para nós? E a resposta é que raramente somos nós (ou elas) a escolher. Vai-se a ver e uma delas é casada, outra mora a 500 km daqui e nunca mais a vamos ver, e a terceira só gosta de outras raparigas. Se tivermos de escolher, será entre ficar com a última rapariga, que aparentemente cumpre todos os requisitos, ou esperar pelo próximo grupo de quatro.

29 de setembro de 2010

Ter. 23:26 - 23:56

Same old bar, different place. Decididamente, o canto da sala começa a ser um lugar onde gosto cada vez menos de estar. É afastado, solitário... É bom que eu consiga ver toda a gente mas mesmo assim há algo que não bate certo. Parece que aquela história de ser mais importante ser visto do que ver é mesmo verdade. Há pouco falava da selecção da rapariga ideal para nós num grupo. Aliás, é curioso que agora tenha aparecido com o termo "ideal" porque dada a limitação da escolha pela disponibilidade e interesse alheio é à partida difícil que a pessoa que escolhemos para ficar para connosco seja a ideal. É claro que o conceito de ideal é na verdade muito mais lato do que parece. Basta pensar na quantidade de pessoas por quem nos apaixonamos ao longo da vida e que, a certa altura da mesma, consideramos a mais bonita do Mundo. Os animais selvagens, como tigres, leopardos, etc., acasalam praticamente com o primeiro elemento da sua espécie (e de sexo contrário) que encontrem à frente. O ser humano é apenas um bocadinho mais selectivo, mas não assim tanto. Em tempos inventei uma estatística segundo a qual existem pelo menos 500 mulheres ou homens da nossa vida, só em Portugal. A conta é fácil, baseia-se no facto de conhecermos um máximo de 20000 pessoas ao longo da nossa vida (o que é um número muito por algo), e é precisamente nessas 20000 pessoas que encontramos, de todas as vezes, a pessoa ideal para nós: quer dizer que, dos 10 milhões de habitantes em Portugal tem que haver uma em cada 20000 pessoas que corresponda à nossa pessoa ideal: uma que conhecemos ao longo da vida e 499 que nunca chegamos a conhecer. Continua, mais uma vez. Sigh.

Ter. 18:37 - 19:07

Vou ter de parar de mencionar todas as vezes em que escrevo de um café diferente (esta é a sétima), porque sinceramente já começa a enjoar. Eh eh. Dei um saltinho à praia, não de bicla como queria mas de carro, ao final da tarde. Já não tem muita gente mas deu para ver mais uma vez aqueles chinelos de enfiar o dedo que toda a gente usa agora. Desta vez tem de ser, desta vez tenho de o dizer mesmo, eu abomino esses chinelos desde que era pequeno. Um amigo disse que era provavelmente por ter tido em tempos uma má experiência com eles, e deve ser. Devo ter arranjado em tempos chinelos muito grandes para o meu pé, ou com a parte de enfiar no dedo muito estreita, de qualquer forma lembro-me que aquilo magoava. Mas agora parece que o raio dos chinelos são moda, até um homem vestido com calças de ganga pode meter aquela porcaria nos pés. Mas afinal está tudo doido, ou quê? Ainda se andassem de crocs, podem ser feios mas pelo menos parecem ser confortáveis. Raios partam esses gajos que trazem as modas antigas de volta. Só há uma coisa que eu gostava de perceber: aquilo ainda aleija ou não? Da última vez que tive de comprar uns, claramente em estado de emergência, lembro-me vagamente que sim, que aquilo ainda aleijava, por isso a mim é que não me apanham com uma coisa daquelas tão depressa. Provavelmente será o equivalente dos saltos altos em chinelo, é bonitinho de se ver mas não é propriamente benéfico para o pé... enfim. Desta vez vim parar a uma esplanada vazia, à excepção de um grupo de quatro raparigas que me fazem lembrar as amigas de O Sexo e a Cidade. Aliás, como qualquer grupo de quatro raparigas faz lembrar a qualquer um. Uma questão, tendo entre quatro raparigas à escolha, para contactos íntimos, digamos, qual seria o critério de selecção? A beleza? A inteligência? O sentido de humor? Uma combinação das três? Bem, estas características são perfeitamente secundárias quando comparadas com as características principais, a disponibilidade e o interesse dela em nós. A não ser que tenha uma beleza e sensualidade completamente off the charts, uma mulher bonita torna-se imediatamente feia no preciso momento em que ela revela que é comprometida (ok, também depende do facto de nos fazer ou não diferença o facto de elas serem comprometidas - há sempre aquela frase do "e daí, eu não sou ciumento..." mas para já vamos só falar daqueles a quem faz diferença. Oops, continua.

28 de setembro de 2010

Seg. 23:26 - 23:56

Yup. Viram bem. É o mesmo dia, um bocadinho mais tarde. Quando estive na Figueira lembro-me que a conversa ficou a meio, por isso hoje não queria deixar Coimbra sem falar mais um bocadinho do ambiente nesta cidade. Cidade grande é outra coisa. Além de estar mais à vontade em termos de anonimato, tenho uma miríade de cafés à escolha. Com esta brincadeira já vou no sexto café diferente que visito, o que é deveras interessante. Hoje falei pela primeira vez da meia hora de escrita ao psi e ele gostou da ideia, mas disse que da próxima vez devia ir escrever para uma mesa no meio do café, em vez de a um canto. A exposição aparentemente faz-me bem, e uma coisa é certa, embora fique incomodado com a possibilidade de ter gente a olhar para mim como se achasse estranho o que faço, também não ia querer ser completamente ignorado, afinal se era para isso nem sequer vinha ao café. Bem, e cumpri o objectivo? É assim, tecnicamente pode-se considerar que estou no meio da sala, embora não haja ninguém sentado atrás de mim ou ao meu lado. Eh eh. Foi o melhor que se pôde arranjar. Bottom line, estou neste momento a quebrar todas as regras não explícitas deste blog. Além de estar a escrever pela segunda vez no mesmo dia, desta segunda vez dispensei a caminhada, até porque já é tarde e já hoje fiz uma caminhada de sete quilómetros antes da primeira escrita, convenientemente apontados pelo programa Marathon que adquiri para o meu telemóvel, que se liga ao GPS para determinar o percurso e a velocidade das minhas caminhadas. À medida que vou correndo os cafés vou encontrando cada vez mais pessoas que aparecem sozinhas. Às tantas não é tão estranho quanto isso. Problema número 1: são todos homens. Será que num ambiente destes uma rapariga sozinha não se sente segura? Será que não está segura mesmo, ou é só a imaginação preventiva dela a pregar-lhe partidas? Dizem que elas vão sempre aos pares para todo o lado (a casa de banho é o mais comum) mas não acho que seja tanto assim. É um fenómeno. Ou então há as que aparecem sozinhas mas não ficam sozinhas por muito tempo, há sempre alguém que vem engatá-las, como no How I Met Your Mother.

Seg. 19:44 - 20:14

Há uma coisa que não percebo naqueles bares de séries de televisão como o How I Met Your Mother. É assim: por um lado há os regulars, que são basicamente os protagonistas da série, aqueles que estão no bar todos os dias (ou pelo menos todas as semanas, porque estão lá todos os episódios), são sempre os mesmos, conhecemo-los sempre. E depois há uma quantidade enorme de visitantes, as raparigas que eles engatam, que aparecem uma vez por episódio e depois vão à vida delas. O que eu pergunto é, de onde é que vem tanta gente? É realmente plausível que apareça em cada episódio uma ou duas raparigas diferentes, que nunca são as mesmas? Porque é que elas não decidem ir lá mais vezes? Não gostam do bar? Ou simplesmente têm uma experiência tão má com os residentes na série que decidem nunca mais os ver na vida? E se aquilo é realmente mau, porque é que continuam a vir sempre mais e mais visitantes? Há coisas que realmente são desfasadas da realidade. Num bar a sério, se todas as raparigas que se metessem com engatatões residentes deixassem de ir ao bar, depressa este ficaria vazio, só com os residentes, sem mais ninguém que restasse para engatar. Outro cliché: as raparigas que eles engatam estão sempre do mesmo lado do bar. Parece que até já sabem o sítio onde é suposto serem engatadas. Vão para lá de propósito, obviamente. Enfim, isto só em séries americanas. No bar onde estou em Coimbra, tanto quanto sei (e a esta hora) não se engata ninguém. Ou eu sou muito desligado da realidade ou não há o hábito de chegar ao pé de alguém que está ao balcão e apresentar-se. Cada um está com os seus conhecidos, e os grupos não se misturam a não ser que haja amigos comuns, o elo de ligação. E mesmo assim. Nas discotecas é provavelmente, não, seguramente diferente. Há algo de estranho em sermos chamados velhos porque achamos que o barulho da discoteca não dá para conversar. E o mais curioso é a razão pela qual nos chamam isso, à primeira vista poder-se-á pensar que a discoteca não serve para conversar mas para dançar. Mas é precisamente o contrário, o facto é que esse pessoal mais novo efectivamente consegue manter uma conversa no meio da discoteca! Não uma conversa prolongada, dita "normal", mas uma conversa mais curta, gritada aos ouvidos uns dos outros e por isso mesmo muitas vezes compreendida só pela metade. Mas julgo haver uma certa atracção em chegar ao pé da pessoa para lhe falar ao ouvido, deve ser por isso, afinal, que põem a música tão alta.

27 de setembro de 2010

Dom. 22:16 - 22:46

Passou uma semana desde o início e estou a repetir um café pela primeira vez. Não me consigo habituar ao ambiente nos cafés: apesar de me terem sempre deixado em paz enquanto escrevo desalmadamente, fico sempre a pensar se não acharão estranho o meu acto. Bem, e se penso assim agora, pior será quando começar a vir tantas vezes que passem a conhecer-me, o rapaz estranho que se senta a um canto, começa a escrever, acaba passada meia hora e vai-se embora. Mesmo assim, este é o meu café preferido da cidade, e acho que vou vir cá mais vezes. Esplanada interior, mesas espalhadas quanto baste e uma dose adequada de gente. A iluminação não é grande coisa para escrever, mas dá, ainda mais se não precisar propriamente de ler o que escrevo, disso trato mais tarde. Mas estou mais uma vez a vaguear no meta. Acontece, quando abro o livro sem qualquer ideia do que vou escrever. Ainda insistindo mais um pouco no meta, porque é que a minha cabeça fervilha mais na caminhada depois de escrever que na caminhada antes? Compreende-se porque depois de fazer um esforço para ter ideias para escrever elas começam a aparecer naturalmente mas é lixado especialmente porque no dia seguinte já não nos lembramos das ideias que tivemos, e basicamente voltamos à estaca zero. Esta foi uma das poucas coisas que me lembrei de dizer no dia seguinte, e afinal nem ficou grande coisa. Está a dar o Ídolos na TV, acho que vou ter de o começar a ver porque toda a gente fala daquilo no Twitter e no Facebook, se calhar aquilo até tem piada mas ultimamente tenho muita preguiça para ver programas em directo, e o Ídolos não é um programa que se possa gravar e ver mais tarde porque depois já não se pode comentar... qual é a piada de ver se não se pode comentar? Para isso vê-se depois os vídeos dos melhores momentos que alguém põe sempre no Youtube. Tenho de começar a deixar de beber café nos cafés onde escrevo. O Pedras Limão da última vez sempre deu para todo o tempo em que estive a escrever. O café dá para três golitos e pronto... Bem, e falando agora de algo completamente diferente, estou finalmente de férias pela primeira vez este ano, e no entanto não me sinto de férias... Em parte porque vou passá-las perto de casa, e depois porque depois de passar um domingo a trabalhar e depois de deixar alguns loose ends que espero aguentarem uma semana mas acho que não vão aguentar, parece-me que ainda vou ser chamado de urgência, E por fim porque ainda não sei o que vou fazer... pode ser que o psi tenha uma daquelas ideias fixes como a de caminhar por aí sem destino. Acho que vou ter de ir mesmo para casa ver os Ídolos, mas não sei se vou a tempo. Sempre se conversa mais do que aqui, ironicamente...

24 de setembro de 2010

Qui. 22:23 - 22:53

Mudei de café novamente. Desta vez até mudei de cidade. E mudei de bebida, também como já tomei café tive de o substituir por uma Pedras Limão. A atmosfera de hoje é deveras peculiar. O café tem sofás, bem confortáveis, por sinal, mas o que acontece hoje é que, por estarem cá poucas pessoas, ficaram todas viradas para o mesmo lado, a parede com as televisões. As duas senhoras à minha frente conversam amigavelmente acerca de uma terceira pessoa que é provavelmente a cabra da sua colega de trabalho que mais uma vez fez uma das suas. Ouvimos estas conversas de relance e parecem-nos todas iguais. A outra é sempre uma cabra insensível e não tem respeito pelas ideias dos outros. Provavelmente num outro canto do mundo a cabra insensível está a dizer exactamente o mesmo destas em conversa com uma amiga dela. Depois vêm os conselhos, "Tu tens de fazer isto e aquilo, não te rebaixes, tens de lhe responder, não podes deixar que ela faça isso contigo". "Se fosse eu, ela não fazia o que fez, que eu não deixava". Não se iluda, o "Se fosse eu" é sempre da boca para fora. Estando a outra na mesma situação teria o mesmo dilema, a mesma pressão por parte da outra. Por isso a expressão mais honesta e verdadeira seria "Se fosse eu, a esta hora estava a perguntar-te a ti o que tu farias". Mas é claro que não é isso que a outra quer ouvir, ela quer ouvir pelo menos uma réstia da solução para o seu problema. Eu ao conversar com mulheres sobre os seus problemas (é raro conversar com homens do mesmo assunto) descobri que 95% dos meus conselhos são gibberish. São tretas. Mas no meio de todas as tretas que digo há alguma coisa que acerta. E aí faz-se um clique na cabeça da rapariga e ela diz "É isso, é mesmo isso". E esses 30 segundos da frase que disse e que fez todo o sentido para ela fazem valer a pena às 2 horas que passei a dizer coisas sem sentido nenhum. Não é uma questão de genialidade, apenas de persistência. Curiosamente, o meu psicólogo faz a mesma coisa comigo, de cada consulta tiro apenas uma ou duas ideias que me parecem acertadas, estas caminhadas foram uma delas, foi um golpe de génio, e ainda bem porque é para isso que lhe pago. Ah! Ah! Mas continuando na descrição da sala, além das duas raparigas tenho dois rapazes ao meu lado, sozinhos, a ver a televisão. Não sei o que fazem. Estão à espera de alguém? Ou estão solteiros como eu, e à espera que "algo" aconteça? Em verdade vos digo que, curiosamente, não sou a única pessoa a ir sozinha para um café (embora, até ver, seja a única que escreve). Será que também são habituais? Vêm todos os dias para o café e ficam a ver televisão. Bem, uma coisa já descobri, sempre é melhor que ficar em casa porque se vêem pessoas. Mesmo assim, para ficar a ver o Stallone mais vale estar em casa. Eia, ainda tinha tanta coisa para dizer... Há dias em que a meia hora não chega.

21 de setembro de 2010

Ter. 21:46 - 22:16

The Monkeys. Conhecem? Parece que eles é que cantavam o "I'm a Believer" original. Não sabia. Tem uma certa piada. Não estou muito bem disposto hoje. Olha, e a versão mais recente é do(s?) Smash Mouth! Nice. Mas estava a falar da má disposição (e aproveito para falar da letra - caligrafia - que está o pior de sempre). Cenas do trabalho. Não é como vocês pensam. Não é um mar de rosas. Às vezes é difícil. É o que diz, mais cedo ou mais tarde, toda a gente que tenha emprego. Eu nem tenho razões de queixa, passo o dia sentado em frente ao computador, sem me mexer muito. No meu caso o problema são os clientes que pedem assistência técnica, esses sim, devem queixar-se que nem uns perdidos, que têm os clientes deles à perna, a ameaçar cancelar o negócio, e não podem fazer mais nada senão recorrer à famosa "pressão" ao fabricante. A vantagem que eles têm e eu não é exactamente essa, a de "passar a bola" para outro. Mas a mim as bolas caem-me todas em cima e eu não tenho a quem as passar, tenho de tratar de todas elas sozinho. Enfim, às vezes parece que estou enterrado no meio das bolas, hoje é um desses dias. É só um desabafo. Ya, acho que isso vocês perceberam. Mudando de assunto, não gosto muito deste café. Não mencionei isto antes mas ando a percorrer os diferentes cafés da cidade para escrever este blog. E tenciono continuar a fazê-lo por uns tempos, quero explorar todas as possibilidades. Apesar de tudo, sou um bocado esquisito quando toca a escolher cafés para escrever. Não gosto deles muito cheios nem completamente vazios, e ambos pela mesma razão, porque tanto num como noutro há maior probabilidade de ver gente a olhar para mim com ar desconfiado. Gosto dos sítios pacatos, que não estejam a abarrotar mas que mostrem mesmo assim que têm clientela. E claro, tem que ter aspecto de café e não de tasca. Tenho-me sentado sempre mais ou menos a um canto mas espero desinibir-me um pouco mais nesse ponto. Neste café, por exemplo, foi estratégia que não resultou, fiquei do lado dos não fumadores e tudo o resto está do lado dos fumadores, e com o vidro entre mim e eles não consigo ver as pessoas. Mas a música não é má, é a da VH1, brings back memories. Há que tempos que não ouvia o Shaggy a cantar "It wasn't me". Falando no assunto, não percebo estas músicas que dizem que são de um gajo quando é outro que canta a música quase toda. Nem sequer sei quem é o outro, e ele até canta melhor que o Shaggy, Não é muito justo, pois não?

20 de setembro de 2010

Seg. 21:38 - 22:08

Nova caneta. Yes. A letra continua mais ou menos na mesma, mas ainda se percebe. Não acredito como é que ainda há pessoas que ouvem Nirvana hoje em dia. Vinte anos de música desde o tempo em que acabaram não vos chega? Pois hoje na caminhada passou um carro por mim onde iam a ouvir daquilo em altos berros. Não acredito que seja pessoal novo, cá para mim são trintões ou quarentões que querem voltar à juventude porque aquilo "Smells like Teen Spirits"! AH! AH! Isto vai ser bonito. Um pouco de meta. Começo a ver que falar do processo é provavelmente tão importante como falar do objectivo. E OK, talvez não deteste tanto o meta-blogging como disse ontem, o problema do meta é quando se torna um vício e não conseguimos falar de mais nada senão do blog em si. É verdade, posso ter mentido, uma das coisas a que têm que se habituar neste blog é que eu posso ser muito pouco coerente. Dizer algo num dia e o seu contrário no dia a seguir é perfeitamente natural, pelo menos para quem está a escrever quase sem pensar. Portanto, perseguindo o meu lema de despreocupação e a premissa de que não há regras, vou deixar o meta fluir livremente. Antes de mais, nunca acreditem quando vos dizem que não há regras. Na verdade apresentei este blog com uma única regra, só meia hora por dia, mas depois há uma carrada de regras não ditas que ficam implícitas. Por exemplo, a ausência de parágrafos, ao bom estilo saramaguiano que eu adoro. Atenção, não é falta ou excesso de vírgulas, o Saramago não fez isso, vão ler os livros dele como deve ser. O que havia eram conversas separadas por vírgulas e parágrafos gigantescos. Mas os pontos finais sempre lá estiveram, e o homem tinha razão, estava a tentar escrever como quem conta uma história falada. Acho que ele testava os limites da literatura e era genial por isso. Eu próprio tenho um sonho no que toca à literatura: escrever um romance daqueles de 300 páginas e começá-lo por algo que não tenha nada a ver com a história do romance. Tipo, escrever uma história sobre alguém que descobre que está preso num jogo de computador jogado com a sua mente, e ter de arranjar uma forma de acordar para a realidade, onde descobre que não é nada como tudo o que ele tinha vivido até então, mas começar por contar que eu tinha ido às pirâmides do Egipto e tinha achado que aquilo não tinha piada nenhuma e não passava de um monte de pedras. Ui, a meia hora passa num instante quando estamos inspirados. A experiência de escrever em cafés está a tornar-se interessante. Digam o que disserem, há sempre gente bonita onde quer que a gente vá. Há sempre algo interessante para observar. Nem que seja uma miudita de três anos que passa o tempo a andar à volta da mesa onde os pais e os amigos deles estão sentados. A maneira como olham para mim é algo estranha, e ainda não sei muito bem como me comportar. Um dia, provavelmente, alguém virá ter comigo e perguntar-me o que é que eu escrevinho tanto, e nessa altura dir-lhe-ei que pode lê-lo, é tudo passado para o blog. See you next time.

19 de setembro de 2010

Dom. 21:22 - 21:52

Antes de mais: não sei se isto vai resultar. Quanto mais penso na ideia de o fazer mais estranho e esquisito me faz parecer. Por isso vou fazer o teste, enquanto der, e esperar pelo melhor. Here's the deal: fazer uma caminhada durante a noite, abancar num café e escrever durante meia hora. São estas as regras. O que vou escrever, não sei, não é suposto saber aliás, a ideia é escrever tudo o que me vem à mente, escrever sem parar, porque afinal, só tenho meia hora. Algumas vezes vou fazer sentido, muitas vezes não, a maior parte das vezes vou começar por um assunto e meter-me por outro assunto pelo meio, deixando o primeiro assunto por acabar. É meia hora de escrita, por isso é como se dissesse que o que conta é a quantidade, e não a qualidade. Faz parte da minha terapia, ou melhor, o que faz parte da terapia é a caminhada, a escrita fui eu que acrescentei, e se por um lado parece estranho aparecer um gajo no café a escrevinhar desesperadamente num Moleskine durante meia hora, então mais estranho ainda seria ele passar essa meia hora no café simplesmente a olhar para o ar. Por isso, parece-me que até certo ponto, a escrita valida a estadia no café, por estranho que isso pareça. Tenho de confessar uma coisa, detesto meta-blogging. Meta-blogging é quando começamos a escrever sobre o blog em si, em vez de escrever sobre outra coisa qualquer. Quando criei o meu blog oficial gastei uma carrada de posts a escrever sobre como é que o blog ia ser, em que língua o ia escrever, porque é que o ia escrever nessa língua, do que é que ia falar, blah, blah, blah, etc. Posts que depois apaguei, felizmente. Por isso espero que este seja o primeiro e último post em que falo do blog em si, embora na verdade não possa ter a certeza disso, pois pela definição do blog, quando me sento para escrever não sei à partida sobre o que é que eu vou escrever. Mas hoje, no primeiro post, sinto que tenho de o fazer, para explicar as regras do jogo. Há algum interesse em que esta seja uma escrita despreocupada, sem qualquer assunto dominante, no limite que eu me sente para escrever sem a mínima ideia de como começar. O interesse, por sua vez, é irónico, porque demonstra preocupação, como posso preocupar-me em ter uma escrita despreocupada? E se por acaso achar que não está a ser despreocupada o suficiente será que vou ficar ainda mais preocupado? Enfim. Voltando à parte de sentar-me sem ideia do que vou fazer, apesar de tudo é um bocado difícil, (e, no final de contas, pode até ser vantajoso). Porquê? Por causa da caminhada anterior, durante a caminhada a minha mente fervilha de coisas para escrever. Bem, como disse, isso é capaz de ser bom, apesar de tudo, porque não quero passar meia hora com um writer's block. De qualquer forma, as histórias com assunto têm um sítio próprio, que é o blog oficial. Este não é um blog oficial, é um blog semi-oficial, que ficará disponível mas meio escondido, com um linkzinho na minha página do Facebook e nada mais. Não é um blog que se recomenda, é um blog que se descobre por acaso, e onde só fica quem gosta e quem tem curiosidade de saber mais. É sem dúvida algo mais íntimo, espero que não seja íntimo demais, para não assustar ninguém, mas dadas as regras do jogo, nunca se sabe. Foi a minha primeira meia hora, e a minha primeira resolução é arranjar uma caneta decente para as meias horas que se seguirem.