Café novo. Este café, em Coimbra, é suposto ser o café por excelência dos intelectuais. É normal ver aqui montes de gente com portáteis ou livros para ler. Hoje, porém, a esta hora, não foi isso que me calhou na rifa. O café está a abarrotar de gente, em grupos de entre duas e sete pessoas, tudo à conversa. Com seis mesas à minha volta com gente que facilmente olha para o que eu estou a fazer, não é de admirar que me sinta um bocadinho intimidado. Não é normal ficar intimidado quando escrevo, que eu me lembre só me aconteceu uma vez, quando o café estava a abarrotar de gente e era tudo famílias com putos (foi quando falei que tinha ganho estatuto de observador, se quiserem vão ver. Não falo do assunto, mas como verão não escrevi muito.). Ok, digam-me o que acham disto como técnica de engate (não se riam já): olhar sempre para a mesma pessoa enquanto escrevo, dando-lhe a impressão de que estou a escrever sobre ela. A ideia é que ela se aperceba disso e, das duas uma, ou faz cara de má ou de lisonjeada, e nesse caso curiosa pelo que eu estou a escrever. Talvez funcione só se fizer isso vários dias com a mesma pessoa. De qualquer forma, não me sinto ainda intere... já não sei o que ia a dizer. O casal ao lado está no engate. Ao contrário do outro casal ao lado, não se acariciam de vez em quando, mas ambos têm as mãos em cima da mesa, provavelmente na esperança de se tocar inadvertidamente. Acho um piadão a estas coisas. Tocam-se no ombro de vez em quando, aquelas palmadas de amigos mas que na realidade os amigos nunca dão. Ela olha para ele como se não percebesse a nada do que ele estava a dizer mas também não lhe interessasse minimamente. As mãos em cima da mesa... que pormenor estúpido, mas que faz todo o sentido! Será que é inconsciente? Não tenho a certeza mas acho que me lembro de ter feito isto em tempos. O toque subreptício e involuntário das mãos era electrizante... Se a memória não é inventada, lembro-me simplesmente de experimentar a sensação de contacto com a outra pessoa, e de querer experimentá-la, mas não me lembro de pensar que, ao fazer o mesmo que eu, ela poderia estar a sentir, a pensar o mesmo que eu. Incrível. Esta noite promete, para estes dois.
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