19 de janeiro de 2011

Qua. ??:?? - ??:??

Neste blog as regras parecem ser feitas para ser quebradas. E neste momento estou prestes a quebrar a regra número um, a da meia hora. Ainda estou num sítio público, embora não num café, mas dentro de um avião algures no ar. Com o telemóvel desligado não tenho forma de saber que horas são, e de qualquer forma espero passar a parte da viagem a escrever, por isso parece-me justo que as regras se quebrem hoje. Muitos de vocês devem achar (ou acharão, uma vez que não tenho tido muitos leitores até agora) que um blog com regras é um bocado estúpido. Sei pelo menos de alguns que o acham. No entanto, são as regras que definem o blog, que o diferenciam dos restantes. Na ausência de um tema, o que quer dizer que neste blog se fala potencialmente sobre tudo, e sendo o tema uma regra importante de qualquer blog, coisas pequenas como a meia hora ou o facto de escrever em cafés são pequenos toques que ajudam a defini-lo. Além disso não é preciso vê-las como regras absolutas mas como guidelines, linhas orientadoras do que se deve ou não escrever, do que os leitores poderão encontrar. Não estou a ser absolutamente correcto quando digo que aqui se fala sobre tudo. Não se fala de coisas muito técnicas, por exemplo, como carros, informática, desporto, jogos e, sei lá, receitas de cozinha. Fala-se da simplicidade da vida e dos pequenos pormenores que encontramos no decorrer da mesma. Por isso, se tem que existir um tema para o blog, será este. OK, chega de meta, vamos descrever o ambiente no avião. Não vai muito cheio, estou na penúltima fila com dois lugares vazios ao meu lado, três raparigas do outro lado do avião, uma das quais se está a maquilhar neste momento. Simpáticas e sorridentes. Devo dizer que, realmente, o índice de desconforto aqui é muito inferior ao que tenho geralmente nos cafés. Estando bem lá atrás (aproveitei que a entrada de trás estava vazia, enquanto toda a gente se precipitava para a entrada da frente), vejo toda a gente e, aparte as três raparigas e a tripulação, ninguém me vê a mim. Por isso estou à vontade, embora tenha a ligeira sensação de que não é isso que se pretende. Como se procurasse, precisasse do desconforto. Três filas à frente da minha e do outro lado, está um antigo colega que já não vejo desde os tempos do liceu. Nunca gostei particularmente dele quando estava no liceu, tenho a ideia que ele era um bocado bully, embora na altura não conhecesse o termo. Cumprimentei-o antes de entrar no avião, mas não me pareceu muito entusiástico por me encontrar, por isso a ideia que tenho dele permanece. Obviamente que já não será um bully aos 35 anos de idade, mas não me parece que tenha ganho pontos de simpatia durante este tempo. Temos uma situação nas filas da frente, alguém que se sentiu mal provavelmente, a tripulação está lá quase toda. Não é normal nestes voos, mas de certeza que acontece de vez em quando. De resto não se passa nada. As meninas do lado continuam a maquilhar-se umas às outras. É giro e sobretudo mais interessante de ver do que estar a ler um livro. Estou com um bocado de medo da descida, porque por vezes tenho quebras de tensão e dores de cabeça lancinantes, já cheguei quase a desmaiar uma vez. Não sei porque é que isso acontece, é um handicap que tenho ao andar de avião. Da vez em que eu quase desmaiei não tinha comido nada, por isso desta vez vim prevenido.

9 de janeiro de 2011

Dom. 16:22 - 16:52

Depois de ter visto ontem o filme "Adam", sobre um rapaz com síndroma de Asperger e a sua relação com uma rapariga "normal", cheguei à conclusão que efectivamente eu não tenho o referido síndroma, e o meu psi tinha razão. Continuo a dizer que tenho vestígios do mesmo, e consigo ver onde é que isso me diferencia na sociedade em geral, mas durante o filme não me consegui identificar com Adam, salvo uma ou duas situações. O meu nível de interacção social, apesar de abaixo do normal, é muito superior ao que Adam apresentava. Consigo ter conversas normais, sobre coisas fúteis, entendo (a maior parte d) as piadas e indirectas, e não perco muito tempo a falar de tecnologia, jogos e coisas do género quando sei que os meus interlocutores não têm o mínimo interesse nisso. E por esse motivo, admito que o facto de dizer que tenho SA (ou PSA) induz as pessoas em erro, pensando que sou um bicho que não se sabe comportar em sociedade quando não é nada disso que sou. Admito as minhas dificuldades, o meu emulador de sentimentos, mas quem tem realmente SA tem um emulador de sentimentos um bocado pior do que o meu. O filme está bem conseguido e um NT é capaz de o achar bastante instrutivo, mas mesmo algumas pessoas com SA o acharam exagerado e dizem que ninguém tem aqueles sintomas todos ao mesmo tempo. Tenho tido algum contacto com a comunidade Asperger através do fórum WrongPlanet.net. O aspecto mais curioso em que reparei logo ao entrar é que eles chamam-se a si próprios Aspies e chamam neurotípicos, ou NT's, às pessoas comummente designadas por "normais". Achei piada porque a designação "NT" é equivalente aos "muggles" dos filmes do Harry Potter, neste último caso todos os que não são feiticeiros, no primeiro todos os que não estão no espectro do autismo. No fundo é um eufemismo para a palavra "normal", porque esta é politicamente incorrecta. Dizer que há pessoas normais implica que todos nós somos anormais. Eu pessoalmente nunca tive problemas com o termo. Na adolescência sempre achei que havia anormais para pior e anormais para melhor, eu sendo, obviamente, um dos últimos. Agora acho que não os classifico em melhores ou piores, apenas diferentes, mas não necessariamente maus. Mas uma vez que os normais vêem o termo "anormal" de forma depreciativa, admito que realmente será melhor arranjar outro termo. Sobre as duas situações com as quais me identifiquei no filme, uma é quando ela o convida para sair com os amigos dela, ele diz que sim mas no último momento não lhe consegue abrir a porta, por medo de enfrentar o desconhecido. Perdi algumas oportunidades na adolescência por causa disso. A segunda foi quando ela lhe perguntou porque é que ele gostava dela, e "porquê?" é a pior pergunta que se pode fazer a uma pessoa com SA. O que ele respondeu no filme é algo parecido com o que eu respondi à minha ex-mulher em tempos. E de qualquer forma, fosse o que fosse que ele dissesse nunca seria aquilo que ele realmente queria dizer. Não era uma questão de não saber a resposta, era uma questão de não perceber a pergunta.

8 de janeiro de 2011

Sáb. 16:10 - 16:40

Ainda estou siderado pela simplicidade e eficácia do pormenor das mãos em cima da mesa. Estes pormenores são pequenos ovos de Colombo, que só se tornam óbvios quando realmente os vemos a acontecer. Ainda sobre o post anterior, é verdade que não me sinto confortável por escrever num café cheio de gente, mas penso que é por me aperceber que ocupo uma mesa inteira quando grupos de quatro ou cinco não têm lugar no café. Parece que estou a dar prejuízo à casa. Mas enfim, não é disto que queria falar. Hoje é o meu primeiro post de 2011. E sobre isso, tenho a dizer que acho curiosa a cerimónia da passagem de ano. Não é nenhuma data histórica ou religiosa importante, é simplesmente um dia que se escolheu ao calhas para aumentar o número de anos em um e reiniciar a contagem dos dias. Poder-se-ia acumular com o Natal, por exemplo, ou outra data qualquer, mas pronto, escolheu-se um dia ao calhas. Não é propriamente motivo de indignação, mas é curioso. A passagem de ano não é um feriado normal. É algo que se festeja com os amigos, que se passa em lugares exóticos ou, no mínimo, diferentes dos habituais. Tal como no Natal, na passagem de ano não é suposto estar sozinho, e as pessoas ficam preocupadas ao saber que é isso que um dos seus conhecidos se prepara para fazer. Até o meu psi me perguntou onde é que eu ia passar a passagem de ano, provavelmente pronto a dar-me um sermão se eu respondesse que ia ficar em casa a ver TV. Depois há aquilo das retrospectivas do ano que passou, e dos desejos e resoluções para o ano que vem. As retrospectivas não acho mal, é bom que se façam de tempos a tempos para recordarmos o que se tem passado, escolher o melhor e o pior do ano, acho piada a essas merdas. E se há uma altura certa para o fazer, é capaz de ser esta. Por outro lado, as resoluções e desejos são um bocado estúpidos, não propriamente pelo que são mas porque na semana a seguir já ninguém se lembra deles. Para já, para quê 12 resoluções ou 12 desejos? De repente consigo lembrar-me de três, com alguma sorte de seis, mas depois começamos a repescá-los e a pedir coisas estúpidas. Este ano pedi apenas um desejo, quanto mais não seja para ver se me lembro dele na próxima passagem de ano. Houve um ano em que eu cheguei a seleccionar cuidadosamente os 12 desejos, escrevê-los no computador e deixá-los guardados, para no ano seguinte contar quantos deles se tinham cumprido. E o que aconteceu no ano seguinte? Nem sequer tive paciência para procurar o ficheiro e abri-lo. Suponho que ainda lá está.