15 de outubro de 2011

Sáb. 15.38 - 16:08


Não sei se isto hoje vai resultar. Da última vez que tentei não resultou, acabei por escrever um artigo do blog oficial. De qualquer forma tenta-se outra vez, alguma vez há-de dar. Point in question: estou no café, mas desta vez larguei o moleskine do costume em favor do meu novo MacBook. Para já não é bem a mesma coisa. A Internet que vem-me parar ao computador vinda sabe-se lá de onde é uma distracção. Por outro lado, a janelazinha do Twitter aqui ao lado talvez sirva de inspiração... ou serviria se a Internet não se tivesse desligado e a janela esteja sem actualizações. O tema de hoje é: coisas que para se conseguirem é necessário que não se pense nelas. O exemplo mas óbvio é o amor, que tenho andado a dizer repetidamente há bastantes anos que é como um miúdo que joga connosco às escondidas: enquanto continuarmos à procura dele ele permanecerá escondido, mas se o ignorarmos mais tarde ele próprio virá ter connosco. Mas atrevo-me a estender isso a tudo o que é interacção social. O tema é um corolário de uma lei que poderia vir do próprio Murphy: quanto mais te esforçares para que um evento social te corra bem, mais mal ele te correrá. O corolário é que se tens um objectivo social qualquer para cumprir, o melhor que podes fazer é esforçares-te ao máximo por ignorar por completo esse objectivo. Assim as tuas acções parecerão naturais e não forçadas, e as pessoas gostarão mais de ti por mostrares quem tu és, em vez de tentares desesperadamente fingir ser outra pessoa qualquer. Será então mais fácil cumprir o teu objectivo, seja ele qual for. Faz sentido para vocês? Faz? A sério??? Então talvez me possam explicar qual é a diferença entre isso e não ter objectivo nenhum. Afinal nós queremos aquela coisa. Tipo, queremos mesmo aquela coisa. Vamos continuar a agir como se não a quiséssemos, para que ela nos seja dada? Quer dizer então que ela ser-nos-ia dada mesmo se não a quiséssemos no início? Dizem que tenho a minha mente muito formatada em termos lógicos, por isso é natural que não perceba como isso funciona. É como se a melhor forma de arranjar um emprego fosse ir a uma entrevista e falar do tempo, do golo anulado do Benfica e do dinheiro que os nossos políticos nos andam supostamente a roubar.

13 de agosto de 2011

Sáb. 00:10 - 00:40

Uau exactamente a mesma hora que da última vez! What are the odds of that? Anyway. Pergunto-me porque será que as mesmas atitudes que nós tomamos e que são toleradas por pessoas que conhecemos bem podem assustar pessoas que estamos ainda a conhecer. Dou-vos um exemplo. Cheguei a perder uma proto-amizade e quase fiz o mesmo com uma segunda quando mandei uma piada um pouco mais atrevida. A questão é que uma pessoa que conheça bem, aliás, não precisa de ser bem, é apenas minimamente, sabe que eu digo estas piadas, e que as digo sem qualquer malícia (é geralmente quando faço trocadilhos com as palavras porque as interpreto muito literalmente - acho que já escrevi sobre isso). Não se vai assustar com isso. Vai-se rir. Então o que aconteceu com as pessoas que se assustaram? OK, não tenho bem uma resposta para essa pergunta, uma série de conjecturas talvez. Há a hipótese de não sermos compatíveis, de todo mesmo. Mas eu contesto essa hipótese, afinal grande parte dos nossos amigos não são necessariamente compatíveis connosco. Não têm os mesmos interesses. Não dizem as mesmas piadas que nós, e alguns deles nem sequer gostam das nossas piadas, mas não se assustam. São amigos porque fomos ou somos colegas de escola, ou de trabalho, ou porque o meu melhor amigo agora namora com a melhor amiga dela. Mas OK, vamos andar para trás um bocadinho, porque realmente no contexto em que conheci as minhas proto-amigas, talvez se esperasse ir um pouco além da amizade. Portanto, agora que repus o contexto, digamos que uma pessoa ao conhecer outra tenta sempre dar de si o seu melhor ao mesmo tempo que espera o pior do outro. Por isso qualquer falha detectada no outro é imperdoável. O Seinfeld terminou um namoro porque ela comia as ervilhas uma a uma, for god's sake! O ser humano evoluiu assim de forma a mostrar primeiro o máximo das suas qualidades e esconder tanto quanto possível os seus defeitos, até chegar ao ponto de não retorno. Aí já não há problema em mostrar os defeitos porque já passam a ser toleráveis. Por isso é que há tanto casamento desfeito ao fim de quatro ou cinco anos, e por isso é que no desfazer do casamento todos recordam aquele tempo em que só havia qualidades. Mas lembrei-me de outra, a melhor solução para este problema ainda é capaz de passar por uma análise estatística. Simplesmente, o período de amostragem é muito baixo. Se eu faço asneira em 10% do meu primeiro encontro, ela vai pensar que vou fazer 10% de asneiras toda a minha vida. Sempre é mais de meio dia por semana, ainda é um bocado. Só quem espera tempo suficiente para ver é que consegue descobrir se os 10% estão na média ou se são só um outlier.

7 de agosto de 2011

Dom. 00:10 - 00:40

"Just because it feels good, doesn't make it right." Hum, não, acho que se enganaram. O original devia ser "Just because it feels good, doesn't make it easy". Mas suponho que "right" tem melhor sonoridade, não sei. Hoje vim para a esplanada do Irish de Coimbra, de moleskine em punho, à espera que isso me faça parecer inteligente. Solitário, mas inteligente. Digamos que o raio do moleskine também ajuda, obriga-me a estar aqui pelo menos meia hora, e de certa forma é a minha companhia, estar sozinho a olhar para o ar é uma coisa (na verdade encontrei um gajo sozinho a olhar para o ar e não me pareceu assim tão mal), e estar sozinho a escrever o que até pode ser um grande romance (eles sabem lá...) é outra completamente diferente. Na última conversa com o psi fiquei com trabalho de casa, tentar perceber porque são tão difíceis para mim coisas aparentemente banais como falar com desconhecidos, e que circunstâncias especiais me fariam mudar de ideias e avançar. Hoje é um bom dia para começar com esse trabalho de casa, há uma rapariga numa mesa mais afastada que é gira como o caraças, mesmo o meu estilo (sim, eu tenho um estilo), e eu estou a perguntar-me porque não me levanto da minha mesa e me vou sentar na mesa dela. Vamos começar? Ah, espera ainda falta uma coisa. Ela também já me viu, olha para aqui de vez em quando e já me apanhou a olhar para ela. OK, podemos começar agora. Bem, para já, está acompanhada, por uma amiga. Embora não saiba bem se isso é uma razão ou não, há bocado esteve sozinha por uns tempos e isso não me encheu de coragem para lá ir. OK, talvez não haja nenhum tipo de razão que me convença a ir lá. Acho que simplesmente nunca lá iria. O psi perguntou-me o que diria se tentasse falar com uma desconhecida que encontrasse ao meu lado no balcão. E eu falei de uma história elaborada sobre perguntar-se se isso de estar ao balcão à espera que conversassem com ela era mesmo real ou era coisa que só aparecia nos filmes americanos. Ele ouviu falar em filmes americanos e torceu o nariz, disse que pessoalmente não gostava, mas ainda antes de eu lhe dar a minha resposta ele sugeriu a dele: "Vem cá muitas vezes?" E eu pensei "Vem cá muitas vezes?! Que raio de pergunta é essa? Essas perguntas pá-tá-ti, pá-tá-tá resultam mesmo? Então e se ela disser simplesmente que sim ou que não? Não é melhor ter já uma história inteira preparada?" Tão ingénuo que ele é, pensam vocês. Eu sei. Pensando bem no assunto, "Vem cá muitas vezes?" até é capaz de resultar. É simples o suficiente e apela a que ela fale de si própria. E se disser simplesmente sim ou não, posso eu começar a dizer se eu venho cá muitas vezes ou não, e porquê. Não é propriamente de génio, mas é pretty good. Pretty, pretty, pretty good. OK, Jota, tem que haver uma maneira de falares com ela. Imagina que no final sais daqui a conversar com ela. O que é que aconteceu entretanto? Acho que só vejo uma hipótese: ela veio falar comigo. Ya. É isso. Mas... não é muito comum isso acontecer, não é? Quer dizer, com os outros rapazes isso não acontece. OK, outra hipótese: nós até estivemos a fazer uma troca de olhares, mas eu nunca cheguei a perceber até que ponto ela estava interessada. Talvez se retribuísse o olhar com um sorriso. Ou desse qualquer outro sinal de que estava interessada. Não é fácil, eu sei, porque eu não entendo os sinais todos, mas se ela acertasse em algum que eu soubesse... Depois acho que conseguiríamos conversar à distância e por gestos, ou mesmo só olhares, e aí sim, eu saberia que tinha luz verde. Talvez houvessem outras coisas que pudesse tentar, mas terei que as descobrir noutro dia. Entretanto ela e a amiga foram embora, ela ainda olhou para trás e os nossos olhares cruzaram-se para aí uns dois, três segundos. E depois desapareceu. A meia hora já acabou há algum tempo, mas se eu não contar a ninguém vocês também não contam, pois não?

4 de agosto de 2011

Qui. 22:54 - 23:24

Hoje, pela primeira vez já há muito tempo, proponho-me uma meia hora de escrita convencional. A caminhadazinha, o cafezinho, a escritazinha. Nem trago nada preparado nem nada. Mais convencional que isto não pode ser. Tem piada eu chamar-lhe convencional, quando já há muito tempo que só tenho posts tudo menos convencionais, desde escrita noutras cidades, escrita em esplanadas da praia, escrita em aviões, e a escrita do mesmo assunto que se prolonga por três ou quatro meias horas. Faz-me lembrar o meu professor de História do, salvo erro, sétimo ano, que tinha por convenção escrever o sumário no início da aula, mas ao fim de pouco tempo começou a fazê-lo sempre no fim da mesma. Dizia "Hoje, excepcionalmente, escrevemos o sumário no fim da aula". Dizia isto em todas as aulas. Até que um dia, já mesmo no fim do ano lectivo, ele disse "Não, hoje, ordinariamente, escrevemos o sumário no início da aula". Toda a gente se riu. Portanto, é isso, chamar convenção a algo que na prática nunca é usado, digamos que não é muito correcto, mas pode-se fazer na mesma. A cidade está silenciosíssima hoje. É incrível como está tão quieta e calada. O contraste é ainda maior tendo em conta o ambiente de festa, a vibração que se sentia ainda há menos de uma semana, nas noites da feira e dos concertos. A cidade rugia nessa altura, agora está afónica. Está tão silenciosa que passo pelas casas e ouço as televisões lá dentro a darem as notícias. Ouço até o silvo que a televisão faz só por estar ligada. Dá para ouvir as conversas das pessoas de dentro das casas, e até alguém num qualquer primeiro andar a ter aulas de piano. A cidade está tão quieta e calada que até uma rapariga que saiu de casa e começou a andar um pouco à minha frente, depois de entrar no carro trancou-se por dentro enquanto eu passava, porque um gajo a passear numa cidade deserta com um moleskine na mão só pode ser tarado sexual ou assim. Apesar de tudo é agradável passear numa cidade silenciosa. Quem vem de fora deve ficar assustado, eu quando andei à noite na vila deserta de Tarbes em França ia-me borrando de medo. Mas Cantanhede é simpática, como aqueles cães são bernardo que são grandes a ponto de atirar uma pessoa ao chão mas no fundo não fazem mal a uma mosca. Não que passear na cidade deserta fosse propriamente o objectivo de todo este protocolo que é a meia hora de escrita, mas é reconfortante mesmo assim. Faz-me pensar na vida e sentir-me espirituoso. O sentir-me espirituoso é uma expressão engraçada, porque dá a ideia que tenho mais espírito quando estou pensativo do que noutras situações. Mas isso é matéria para outra meia hora.

24 de julho de 2011

Dom. 19:29 - 19:59

Tive uma ideia. Quando estiver no concerto, mando uma mensagem no Facebook a dizer que pago um copo a quem vier ter comigo à barraca do Licor Beirão nos próximos 10 minutos. É uma boa ideia para chamar o pessoal, não é? Além disso não devem ser assim tantos, só os Facebook friends que estiverem no concerto, não devo ir à bancarrota por causa disso. E claro, se por acaso não aparecer ninguém, posso colocar outra mensagem a dizer "bem, OK, não apareceu ninguém, mas assim também não gastei dinheiro", até fica com piada. Pensei eu. Tinha acabado de vir do psi, e a conversa até tinha sido interessante, falámos como as fobias, e no meu caso a fobia social, nos fazem pensar de maneira diferente. A analogia da fobia social com a hidrofobia também foi esclarecedora: perante a minha impaciência por achar que estava a progredir demasiado lentamente, em relação a vencer os meus medos, ele disse simplesmente que o tratamento para quem sofre de hidrofobia também não é pegar na pessoa e atirá-la de repente para o meio da piscina. É suposto ir lentamente, molhar as mãos primeiro, depois os pés, depois as pernas gradualmente até à cintura. É claro que quem sofre de hidrofobia também pode arranjar todas as desculpas e mais algumas para evitar o contacto com a água. É por isso que não se pode ir de repente, não se trata tanto de sair da sua zona de conforto mas de a estender, gradualmente, até que ela englobe o que era até então o seu principal medo. Mas a analogia começa a falhar um pouco aqui, o que eu queria dizer é que na fobia social o medo principal é o de falhar, a obsessão é de que fique tudo perfeito, porque se existe 1% de probabilidade de falha então é melhor nem tentar. Se temos mesmo que tentar, então arranjam-se salvaguardas, por exemplo naquele encontro que possa vir a ter levo-a ao cinema, o encontro pode correr mal mas pelo menos vejo o filme. É o medo que fala por nós quando dizemos isto. Não queremos que hajam falhas por isso o nosso inconsciente arranja sempre um plano B para o caso do plano A correr mal. Agora que penso nisso, por que carga de água vou eu meter aquela mensagem no Facebook, se já estou a prever que não aparece ninguém? Não seria melhor colocar a mensagem quando já estivesse seguro que ia ter companhia, e assim evitar colocar aquela estúpida segunda mensagem? E estás a ver, Carlos Alberto? (nota: é claro que eu não me chamo Carlos Alberto, mas parece que me soa melhor dizer "estás a ver, Carlos Alberto?" do que "estás a ver, João Paulo?" Acho que é uma questão de número de sílabas). Estás a ver como arranjaste logo uma segunda mensagem idiota para o caso da primeira não resultar? Isto é o medo a falar por ti.

12 de fevereiro de 2011

Sáb. 16:05 - 16:35

Hi. It's been a while. Tenho andado sem vontade de escrever, e mesmo o post anterior estive para não o publicar. Pareceu-me depois de o escrever, que tinha falta de conteúdo. Afinal não estava assim tão mau, acho eu. Também achei importante colocá-lo porque estou prestes a quebrar a última regra deste blog que ainda se mantém, a da escrita em sítios públicos. Isto porque com a mudança para o Brasil que vou fazer daqui a uns tempos, deixo de poder sair sozinho livremente e em segurança, pelo que acabarei por escrever em casa, se for caso disso. Portanto, aqui está, um blog sem regras. Anything goes. Vou alongar-me só mais um bocadinho sobre a minha recente inércia de escrita, mas não vos maço muito mais. Acho que de repente as coisas pequenas da vida, que tinha definido no último post como o tema do blog, pareceram-me fúteis, insignificantes. Tenho estado mais activo nos últimos tempos e neste momento escrever neste blog parece-me a coisa menos produtiva que faço. Mas depois apercebi-me que estava a ver este blog da maneira errada. Estava a escrever para mim próprio quando devia estar a escrever para vocês. Agora que me apercebi disso, de que tenho de usar o blog como uma forma de contar histórias e não como um escape para os meus pensamentos e frustrações, penso que a coisa correrá melhor daqui para a frente. OK, os primeiros 15 minutos já foram para o meta, vamos ver se consigo salvar o resto. No outro dia vi duas raparigas a conversar com as mãos em cima da mesa, e perguntei-me se o tique se aplicava também a amigos. Note-se que há uma diferença, entre potenciais namorados as mãos estão tão perto que se tocam inadvertidamente, mas entre amigos estão mais afastadas. Ainda assim, suponho que seja um sinal de amizade e de simpatia entre as duas pessoas. O oposto será quando a pessoa está na defensiva, e nesse caso senta-se para trás na cadeira. Portanto, se está inclinada para a frente, está atenta e interessada no que a outra pessoa está a dizer. Por outro lado, o inclinar para a frente é um sinal diferente de ter as mãos em cima da mesa, apontadas à outra pessoa. Normalmente os braços ficam em cima da mesa, mas cruzados e junto ao próprio corpo (quer dizer, isto também acontece mais porque a maior parte das vezes estão coisas em cima da mesa, mas imaginemos que a mesa está vazia). Haverá um meio termo entre as mãos junto ao corpo que estão simplesmente a conversar e as mãos estendidas para o outro na esperança de se tocarem? Se houver, só se for sinal de uma grande alegria e satisfação em estar com a outra pessoa, mesmo sendo estritamente no campo da amizade. Obviamente que tudo isto é feito de forma involuntária e inconsciente: as mãos mostram mas a cabeça ainda não sabe.

19 de janeiro de 2011

Qua. ??:?? - ??:??

Neste blog as regras parecem ser feitas para ser quebradas. E neste momento estou prestes a quebrar a regra número um, a da meia hora. Ainda estou num sítio público, embora não num café, mas dentro de um avião algures no ar. Com o telemóvel desligado não tenho forma de saber que horas são, e de qualquer forma espero passar a parte da viagem a escrever, por isso parece-me justo que as regras se quebrem hoje. Muitos de vocês devem achar (ou acharão, uma vez que não tenho tido muitos leitores até agora) que um blog com regras é um bocado estúpido. Sei pelo menos de alguns que o acham. No entanto, são as regras que definem o blog, que o diferenciam dos restantes. Na ausência de um tema, o que quer dizer que neste blog se fala potencialmente sobre tudo, e sendo o tema uma regra importante de qualquer blog, coisas pequenas como a meia hora ou o facto de escrever em cafés são pequenos toques que ajudam a defini-lo. Além disso não é preciso vê-las como regras absolutas mas como guidelines, linhas orientadoras do que se deve ou não escrever, do que os leitores poderão encontrar. Não estou a ser absolutamente correcto quando digo que aqui se fala sobre tudo. Não se fala de coisas muito técnicas, por exemplo, como carros, informática, desporto, jogos e, sei lá, receitas de cozinha. Fala-se da simplicidade da vida e dos pequenos pormenores que encontramos no decorrer da mesma. Por isso, se tem que existir um tema para o blog, será este. OK, chega de meta, vamos descrever o ambiente no avião. Não vai muito cheio, estou na penúltima fila com dois lugares vazios ao meu lado, três raparigas do outro lado do avião, uma das quais se está a maquilhar neste momento. Simpáticas e sorridentes. Devo dizer que, realmente, o índice de desconforto aqui é muito inferior ao que tenho geralmente nos cafés. Estando bem lá atrás (aproveitei que a entrada de trás estava vazia, enquanto toda a gente se precipitava para a entrada da frente), vejo toda a gente e, aparte as três raparigas e a tripulação, ninguém me vê a mim. Por isso estou à vontade, embora tenha a ligeira sensação de que não é isso que se pretende. Como se procurasse, precisasse do desconforto. Três filas à frente da minha e do outro lado, está um antigo colega que já não vejo desde os tempos do liceu. Nunca gostei particularmente dele quando estava no liceu, tenho a ideia que ele era um bocado bully, embora na altura não conhecesse o termo. Cumprimentei-o antes de entrar no avião, mas não me pareceu muito entusiástico por me encontrar, por isso a ideia que tenho dele permanece. Obviamente que já não será um bully aos 35 anos de idade, mas não me parece que tenha ganho pontos de simpatia durante este tempo. Temos uma situação nas filas da frente, alguém que se sentiu mal provavelmente, a tripulação está lá quase toda. Não é normal nestes voos, mas de certeza que acontece de vez em quando. De resto não se passa nada. As meninas do lado continuam a maquilhar-se umas às outras. É giro e sobretudo mais interessante de ver do que estar a ler um livro. Estou com um bocado de medo da descida, porque por vezes tenho quebras de tensão e dores de cabeça lancinantes, já cheguei quase a desmaiar uma vez. Não sei porque é que isso acontece, é um handicap que tenho ao andar de avião. Da vez em que eu quase desmaiei não tinha comido nada, por isso desta vez vim prevenido.

9 de janeiro de 2011

Dom. 16:22 - 16:52

Depois de ter visto ontem o filme "Adam", sobre um rapaz com síndroma de Asperger e a sua relação com uma rapariga "normal", cheguei à conclusão que efectivamente eu não tenho o referido síndroma, e o meu psi tinha razão. Continuo a dizer que tenho vestígios do mesmo, e consigo ver onde é que isso me diferencia na sociedade em geral, mas durante o filme não me consegui identificar com Adam, salvo uma ou duas situações. O meu nível de interacção social, apesar de abaixo do normal, é muito superior ao que Adam apresentava. Consigo ter conversas normais, sobre coisas fúteis, entendo (a maior parte d) as piadas e indirectas, e não perco muito tempo a falar de tecnologia, jogos e coisas do género quando sei que os meus interlocutores não têm o mínimo interesse nisso. E por esse motivo, admito que o facto de dizer que tenho SA (ou PSA) induz as pessoas em erro, pensando que sou um bicho que não se sabe comportar em sociedade quando não é nada disso que sou. Admito as minhas dificuldades, o meu emulador de sentimentos, mas quem tem realmente SA tem um emulador de sentimentos um bocado pior do que o meu. O filme está bem conseguido e um NT é capaz de o achar bastante instrutivo, mas mesmo algumas pessoas com SA o acharam exagerado e dizem que ninguém tem aqueles sintomas todos ao mesmo tempo. Tenho tido algum contacto com a comunidade Asperger através do fórum WrongPlanet.net. O aspecto mais curioso em que reparei logo ao entrar é que eles chamam-se a si próprios Aspies e chamam neurotípicos, ou NT's, às pessoas comummente designadas por "normais". Achei piada porque a designação "NT" é equivalente aos "muggles" dos filmes do Harry Potter, neste último caso todos os que não são feiticeiros, no primeiro todos os que não estão no espectro do autismo. No fundo é um eufemismo para a palavra "normal", porque esta é politicamente incorrecta. Dizer que há pessoas normais implica que todos nós somos anormais. Eu pessoalmente nunca tive problemas com o termo. Na adolescência sempre achei que havia anormais para pior e anormais para melhor, eu sendo, obviamente, um dos últimos. Agora acho que não os classifico em melhores ou piores, apenas diferentes, mas não necessariamente maus. Mas uma vez que os normais vêem o termo "anormal" de forma depreciativa, admito que realmente será melhor arranjar outro termo. Sobre as duas situações com as quais me identifiquei no filme, uma é quando ela o convida para sair com os amigos dela, ele diz que sim mas no último momento não lhe consegue abrir a porta, por medo de enfrentar o desconhecido. Perdi algumas oportunidades na adolescência por causa disso. A segunda foi quando ela lhe perguntou porque é que ele gostava dela, e "porquê?" é a pior pergunta que se pode fazer a uma pessoa com SA. O que ele respondeu no filme é algo parecido com o que eu respondi à minha ex-mulher em tempos. E de qualquer forma, fosse o que fosse que ele dissesse nunca seria aquilo que ele realmente queria dizer. Não era uma questão de não saber a resposta, era uma questão de não perceber a pergunta.

8 de janeiro de 2011

Sáb. 16:10 - 16:40

Ainda estou siderado pela simplicidade e eficácia do pormenor das mãos em cima da mesa. Estes pormenores são pequenos ovos de Colombo, que só se tornam óbvios quando realmente os vemos a acontecer. Ainda sobre o post anterior, é verdade que não me sinto confortável por escrever num café cheio de gente, mas penso que é por me aperceber que ocupo uma mesa inteira quando grupos de quatro ou cinco não têm lugar no café. Parece que estou a dar prejuízo à casa. Mas enfim, não é disto que queria falar. Hoje é o meu primeiro post de 2011. E sobre isso, tenho a dizer que acho curiosa a cerimónia da passagem de ano. Não é nenhuma data histórica ou religiosa importante, é simplesmente um dia que se escolheu ao calhas para aumentar o número de anos em um e reiniciar a contagem dos dias. Poder-se-ia acumular com o Natal, por exemplo, ou outra data qualquer, mas pronto, escolheu-se um dia ao calhas. Não é propriamente motivo de indignação, mas é curioso. A passagem de ano não é um feriado normal. É algo que se festeja com os amigos, que se passa em lugares exóticos ou, no mínimo, diferentes dos habituais. Tal como no Natal, na passagem de ano não é suposto estar sozinho, e as pessoas ficam preocupadas ao saber que é isso que um dos seus conhecidos se prepara para fazer. Até o meu psi me perguntou onde é que eu ia passar a passagem de ano, provavelmente pronto a dar-me um sermão se eu respondesse que ia ficar em casa a ver TV. Depois há aquilo das retrospectivas do ano que passou, e dos desejos e resoluções para o ano que vem. As retrospectivas não acho mal, é bom que se façam de tempos a tempos para recordarmos o que se tem passado, escolher o melhor e o pior do ano, acho piada a essas merdas. E se há uma altura certa para o fazer, é capaz de ser esta. Por outro lado, as resoluções e desejos são um bocado estúpidos, não propriamente pelo que são mas porque na semana a seguir já ninguém se lembra deles. Para já, para quê 12 resoluções ou 12 desejos? De repente consigo lembrar-me de três, com alguma sorte de seis, mas depois começamos a repescá-los e a pedir coisas estúpidas. Este ano pedi apenas um desejo, quanto mais não seja para ver se me lembro dele na próxima passagem de ano. Houve um ano em que eu cheguei a seleccionar cuidadosamente os 12 desejos, escrevê-los no computador e deixá-los guardados, para no ano seguinte contar quantos deles se tinham cumprido. E o que aconteceu no ano seguinte? Nem sequer tive paciência para procurar o ficheiro e abri-lo. Suponho que ainda lá está.