9 de janeiro de 2011

Dom. 16:22 - 16:52

Depois de ter visto ontem o filme "Adam", sobre um rapaz com síndroma de Asperger e a sua relação com uma rapariga "normal", cheguei à conclusão que efectivamente eu não tenho o referido síndroma, e o meu psi tinha razão. Continuo a dizer que tenho vestígios do mesmo, e consigo ver onde é que isso me diferencia na sociedade em geral, mas durante o filme não me consegui identificar com Adam, salvo uma ou duas situações. O meu nível de interacção social, apesar de abaixo do normal, é muito superior ao que Adam apresentava. Consigo ter conversas normais, sobre coisas fúteis, entendo (a maior parte d) as piadas e indirectas, e não perco muito tempo a falar de tecnologia, jogos e coisas do género quando sei que os meus interlocutores não têm o mínimo interesse nisso. E por esse motivo, admito que o facto de dizer que tenho SA (ou PSA) induz as pessoas em erro, pensando que sou um bicho que não se sabe comportar em sociedade quando não é nada disso que sou. Admito as minhas dificuldades, o meu emulador de sentimentos, mas quem tem realmente SA tem um emulador de sentimentos um bocado pior do que o meu. O filme está bem conseguido e um NT é capaz de o achar bastante instrutivo, mas mesmo algumas pessoas com SA o acharam exagerado e dizem que ninguém tem aqueles sintomas todos ao mesmo tempo. Tenho tido algum contacto com a comunidade Asperger através do fórum WrongPlanet.net. O aspecto mais curioso em que reparei logo ao entrar é que eles chamam-se a si próprios Aspies e chamam neurotípicos, ou NT's, às pessoas comummente designadas por "normais". Achei piada porque a designação "NT" é equivalente aos "muggles" dos filmes do Harry Potter, neste último caso todos os que não são feiticeiros, no primeiro todos os que não estão no espectro do autismo. No fundo é um eufemismo para a palavra "normal", porque esta é politicamente incorrecta. Dizer que há pessoas normais implica que todos nós somos anormais. Eu pessoalmente nunca tive problemas com o termo. Na adolescência sempre achei que havia anormais para pior e anormais para melhor, eu sendo, obviamente, um dos últimos. Agora acho que não os classifico em melhores ou piores, apenas diferentes, mas não necessariamente maus. Mas uma vez que os normais vêem o termo "anormal" de forma depreciativa, admito que realmente será melhor arranjar outro termo. Sobre as duas situações com as quais me identifiquei no filme, uma é quando ela o convida para sair com os amigos dela, ele diz que sim mas no último momento não lhe consegue abrir a porta, por medo de enfrentar o desconhecido. Perdi algumas oportunidades na adolescência por causa disso. A segunda foi quando ela lhe perguntou porque é que ele gostava dela, e "porquê?" é a pior pergunta que se pode fazer a uma pessoa com SA. O que ele respondeu no filme é algo parecido com o que eu respondi à minha ex-mulher em tempos. E de qualquer forma, fosse o que fosse que ele dissesse nunca seria aquilo que ele realmente queria dizer. Não era uma questão de não saber a resposta, era uma questão de não perceber a pergunta.

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