29 de setembro de 2010

Ter. 23:26 - 23:56

Same old bar, different place. Decididamente, o canto da sala começa a ser um lugar onde gosto cada vez menos de estar. É afastado, solitário... É bom que eu consiga ver toda a gente mas mesmo assim há algo que não bate certo. Parece que aquela história de ser mais importante ser visto do que ver é mesmo verdade. Há pouco falava da selecção da rapariga ideal para nós num grupo. Aliás, é curioso que agora tenha aparecido com o termo "ideal" porque dada a limitação da escolha pela disponibilidade e interesse alheio é à partida difícil que a pessoa que escolhemos para ficar para connosco seja a ideal. É claro que o conceito de ideal é na verdade muito mais lato do que parece. Basta pensar na quantidade de pessoas por quem nos apaixonamos ao longo da vida e que, a certa altura da mesma, consideramos a mais bonita do Mundo. Os animais selvagens, como tigres, leopardos, etc., acasalam praticamente com o primeiro elemento da sua espécie (e de sexo contrário) que encontrem à frente. O ser humano é apenas um bocadinho mais selectivo, mas não assim tanto. Em tempos inventei uma estatística segundo a qual existem pelo menos 500 mulheres ou homens da nossa vida, só em Portugal. A conta é fácil, baseia-se no facto de conhecermos um máximo de 20000 pessoas ao longo da nossa vida (o que é um número muito por algo), e é precisamente nessas 20000 pessoas que encontramos, de todas as vezes, a pessoa ideal para nós: quer dizer que, dos 10 milhões de habitantes em Portugal tem que haver uma em cada 20000 pessoas que corresponda à nossa pessoa ideal: uma que conhecemos ao longo da vida e 499 que nunca chegamos a conhecer. Continua, mais uma vez. Sigh.

Ter. 18:37 - 19:07

Vou ter de parar de mencionar todas as vezes em que escrevo de um café diferente (esta é a sétima), porque sinceramente já começa a enjoar. Eh eh. Dei um saltinho à praia, não de bicla como queria mas de carro, ao final da tarde. Já não tem muita gente mas deu para ver mais uma vez aqueles chinelos de enfiar o dedo que toda a gente usa agora. Desta vez tem de ser, desta vez tenho de o dizer mesmo, eu abomino esses chinelos desde que era pequeno. Um amigo disse que era provavelmente por ter tido em tempos uma má experiência com eles, e deve ser. Devo ter arranjado em tempos chinelos muito grandes para o meu pé, ou com a parte de enfiar no dedo muito estreita, de qualquer forma lembro-me que aquilo magoava. Mas agora parece que o raio dos chinelos são moda, até um homem vestido com calças de ganga pode meter aquela porcaria nos pés. Mas afinal está tudo doido, ou quê? Ainda se andassem de crocs, podem ser feios mas pelo menos parecem ser confortáveis. Raios partam esses gajos que trazem as modas antigas de volta. Só há uma coisa que eu gostava de perceber: aquilo ainda aleija ou não? Da última vez que tive de comprar uns, claramente em estado de emergência, lembro-me vagamente que sim, que aquilo ainda aleijava, por isso a mim é que não me apanham com uma coisa daquelas tão depressa. Provavelmente será o equivalente dos saltos altos em chinelo, é bonitinho de se ver mas não é propriamente benéfico para o pé... enfim. Desta vez vim parar a uma esplanada vazia, à excepção de um grupo de quatro raparigas que me fazem lembrar as amigas de O Sexo e a Cidade. Aliás, como qualquer grupo de quatro raparigas faz lembrar a qualquer um. Uma questão, tendo entre quatro raparigas à escolha, para contactos íntimos, digamos, qual seria o critério de selecção? A beleza? A inteligência? O sentido de humor? Uma combinação das três? Bem, estas características são perfeitamente secundárias quando comparadas com as características principais, a disponibilidade e o interesse dela em nós. A não ser que tenha uma beleza e sensualidade completamente off the charts, uma mulher bonita torna-se imediatamente feia no preciso momento em que ela revela que é comprometida (ok, também depende do facto de nos fazer ou não diferença o facto de elas serem comprometidas - há sempre aquela frase do "e daí, eu não sou ciumento..." mas para já vamos só falar daqueles a quem faz diferença. Oops, continua.

28 de setembro de 2010

Seg. 23:26 - 23:56

Yup. Viram bem. É o mesmo dia, um bocadinho mais tarde. Quando estive na Figueira lembro-me que a conversa ficou a meio, por isso hoje não queria deixar Coimbra sem falar mais um bocadinho do ambiente nesta cidade. Cidade grande é outra coisa. Além de estar mais à vontade em termos de anonimato, tenho uma miríade de cafés à escolha. Com esta brincadeira já vou no sexto café diferente que visito, o que é deveras interessante. Hoje falei pela primeira vez da meia hora de escrita ao psi e ele gostou da ideia, mas disse que da próxima vez devia ir escrever para uma mesa no meio do café, em vez de a um canto. A exposição aparentemente faz-me bem, e uma coisa é certa, embora fique incomodado com a possibilidade de ter gente a olhar para mim como se achasse estranho o que faço, também não ia querer ser completamente ignorado, afinal se era para isso nem sequer vinha ao café. Bem, e cumpri o objectivo? É assim, tecnicamente pode-se considerar que estou no meio da sala, embora não haja ninguém sentado atrás de mim ou ao meu lado. Eh eh. Foi o melhor que se pôde arranjar. Bottom line, estou neste momento a quebrar todas as regras não explícitas deste blog. Além de estar a escrever pela segunda vez no mesmo dia, desta segunda vez dispensei a caminhada, até porque já é tarde e já hoje fiz uma caminhada de sete quilómetros antes da primeira escrita, convenientemente apontados pelo programa Marathon que adquiri para o meu telemóvel, que se liga ao GPS para determinar o percurso e a velocidade das minhas caminhadas. À medida que vou correndo os cafés vou encontrando cada vez mais pessoas que aparecem sozinhas. Às tantas não é tão estranho quanto isso. Problema número 1: são todos homens. Será que num ambiente destes uma rapariga sozinha não se sente segura? Será que não está segura mesmo, ou é só a imaginação preventiva dela a pregar-lhe partidas? Dizem que elas vão sempre aos pares para todo o lado (a casa de banho é o mais comum) mas não acho que seja tanto assim. É um fenómeno. Ou então há as que aparecem sozinhas mas não ficam sozinhas por muito tempo, há sempre alguém que vem engatá-las, como no How I Met Your Mother.

Seg. 19:44 - 20:14

Há uma coisa que não percebo naqueles bares de séries de televisão como o How I Met Your Mother. É assim: por um lado há os regulars, que são basicamente os protagonistas da série, aqueles que estão no bar todos os dias (ou pelo menos todas as semanas, porque estão lá todos os episódios), são sempre os mesmos, conhecemo-los sempre. E depois há uma quantidade enorme de visitantes, as raparigas que eles engatam, que aparecem uma vez por episódio e depois vão à vida delas. O que eu pergunto é, de onde é que vem tanta gente? É realmente plausível que apareça em cada episódio uma ou duas raparigas diferentes, que nunca são as mesmas? Porque é que elas não decidem ir lá mais vezes? Não gostam do bar? Ou simplesmente têm uma experiência tão má com os residentes na série que decidem nunca mais os ver na vida? E se aquilo é realmente mau, porque é que continuam a vir sempre mais e mais visitantes? Há coisas que realmente são desfasadas da realidade. Num bar a sério, se todas as raparigas que se metessem com engatatões residentes deixassem de ir ao bar, depressa este ficaria vazio, só com os residentes, sem mais ninguém que restasse para engatar. Outro cliché: as raparigas que eles engatam estão sempre do mesmo lado do bar. Parece que até já sabem o sítio onde é suposto serem engatadas. Vão para lá de propósito, obviamente. Enfim, isto só em séries americanas. No bar onde estou em Coimbra, tanto quanto sei (e a esta hora) não se engata ninguém. Ou eu sou muito desligado da realidade ou não há o hábito de chegar ao pé de alguém que está ao balcão e apresentar-se. Cada um está com os seus conhecidos, e os grupos não se misturam a não ser que haja amigos comuns, o elo de ligação. E mesmo assim. Nas discotecas é provavelmente, não, seguramente diferente. Há algo de estranho em sermos chamados velhos porque achamos que o barulho da discoteca não dá para conversar. E o mais curioso é a razão pela qual nos chamam isso, à primeira vista poder-se-á pensar que a discoteca não serve para conversar mas para dançar. Mas é precisamente o contrário, o facto é que esse pessoal mais novo efectivamente consegue manter uma conversa no meio da discoteca! Não uma conversa prolongada, dita "normal", mas uma conversa mais curta, gritada aos ouvidos uns dos outros e por isso mesmo muitas vezes compreendida só pela metade. Mas julgo haver uma certa atracção em chegar ao pé da pessoa para lhe falar ao ouvido, deve ser por isso, afinal, que põem a música tão alta.

27 de setembro de 2010

Dom. 22:16 - 22:46

Passou uma semana desde o início e estou a repetir um café pela primeira vez. Não me consigo habituar ao ambiente nos cafés: apesar de me terem sempre deixado em paz enquanto escrevo desalmadamente, fico sempre a pensar se não acharão estranho o meu acto. Bem, e se penso assim agora, pior será quando começar a vir tantas vezes que passem a conhecer-me, o rapaz estranho que se senta a um canto, começa a escrever, acaba passada meia hora e vai-se embora. Mesmo assim, este é o meu café preferido da cidade, e acho que vou vir cá mais vezes. Esplanada interior, mesas espalhadas quanto baste e uma dose adequada de gente. A iluminação não é grande coisa para escrever, mas dá, ainda mais se não precisar propriamente de ler o que escrevo, disso trato mais tarde. Mas estou mais uma vez a vaguear no meta. Acontece, quando abro o livro sem qualquer ideia do que vou escrever. Ainda insistindo mais um pouco no meta, porque é que a minha cabeça fervilha mais na caminhada depois de escrever que na caminhada antes? Compreende-se porque depois de fazer um esforço para ter ideias para escrever elas começam a aparecer naturalmente mas é lixado especialmente porque no dia seguinte já não nos lembramos das ideias que tivemos, e basicamente voltamos à estaca zero. Esta foi uma das poucas coisas que me lembrei de dizer no dia seguinte, e afinal nem ficou grande coisa. Está a dar o Ídolos na TV, acho que vou ter de o começar a ver porque toda a gente fala daquilo no Twitter e no Facebook, se calhar aquilo até tem piada mas ultimamente tenho muita preguiça para ver programas em directo, e o Ídolos não é um programa que se possa gravar e ver mais tarde porque depois já não se pode comentar... qual é a piada de ver se não se pode comentar? Para isso vê-se depois os vídeos dos melhores momentos que alguém põe sempre no Youtube. Tenho de começar a deixar de beber café nos cafés onde escrevo. O Pedras Limão da última vez sempre deu para todo o tempo em que estive a escrever. O café dá para três golitos e pronto... Bem, e falando agora de algo completamente diferente, estou finalmente de férias pela primeira vez este ano, e no entanto não me sinto de férias... Em parte porque vou passá-las perto de casa, e depois porque depois de passar um domingo a trabalhar e depois de deixar alguns loose ends que espero aguentarem uma semana mas acho que não vão aguentar, parece-me que ainda vou ser chamado de urgência, E por fim porque ainda não sei o que vou fazer... pode ser que o psi tenha uma daquelas ideias fixes como a de caminhar por aí sem destino. Acho que vou ter de ir mesmo para casa ver os Ídolos, mas não sei se vou a tempo. Sempre se conversa mais do que aqui, ironicamente...

24 de setembro de 2010

Qui. 22:23 - 22:53

Mudei de café novamente. Desta vez até mudei de cidade. E mudei de bebida, também como já tomei café tive de o substituir por uma Pedras Limão. A atmosfera de hoje é deveras peculiar. O café tem sofás, bem confortáveis, por sinal, mas o que acontece hoje é que, por estarem cá poucas pessoas, ficaram todas viradas para o mesmo lado, a parede com as televisões. As duas senhoras à minha frente conversam amigavelmente acerca de uma terceira pessoa que é provavelmente a cabra da sua colega de trabalho que mais uma vez fez uma das suas. Ouvimos estas conversas de relance e parecem-nos todas iguais. A outra é sempre uma cabra insensível e não tem respeito pelas ideias dos outros. Provavelmente num outro canto do mundo a cabra insensível está a dizer exactamente o mesmo destas em conversa com uma amiga dela. Depois vêm os conselhos, "Tu tens de fazer isto e aquilo, não te rebaixes, tens de lhe responder, não podes deixar que ela faça isso contigo". "Se fosse eu, ela não fazia o que fez, que eu não deixava". Não se iluda, o "Se fosse eu" é sempre da boca para fora. Estando a outra na mesma situação teria o mesmo dilema, a mesma pressão por parte da outra. Por isso a expressão mais honesta e verdadeira seria "Se fosse eu, a esta hora estava a perguntar-te a ti o que tu farias". Mas é claro que não é isso que a outra quer ouvir, ela quer ouvir pelo menos uma réstia da solução para o seu problema. Eu ao conversar com mulheres sobre os seus problemas (é raro conversar com homens do mesmo assunto) descobri que 95% dos meus conselhos são gibberish. São tretas. Mas no meio de todas as tretas que digo há alguma coisa que acerta. E aí faz-se um clique na cabeça da rapariga e ela diz "É isso, é mesmo isso". E esses 30 segundos da frase que disse e que fez todo o sentido para ela fazem valer a pena às 2 horas que passei a dizer coisas sem sentido nenhum. Não é uma questão de genialidade, apenas de persistência. Curiosamente, o meu psicólogo faz a mesma coisa comigo, de cada consulta tiro apenas uma ou duas ideias que me parecem acertadas, estas caminhadas foram uma delas, foi um golpe de génio, e ainda bem porque é para isso que lhe pago. Ah! Ah! Mas continuando na descrição da sala, além das duas raparigas tenho dois rapazes ao meu lado, sozinhos, a ver a televisão. Não sei o que fazem. Estão à espera de alguém? Ou estão solteiros como eu, e à espera que "algo" aconteça? Em verdade vos digo que, curiosamente, não sou a única pessoa a ir sozinha para um café (embora, até ver, seja a única que escreve). Será que também são habituais? Vêm todos os dias para o café e ficam a ver televisão. Bem, uma coisa já descobri, sempre é melhor que ficar em casa porque se vêem pessoas. Mesmo assim, para ficar a ver o Stallone mais vale estar em casa. Eia, ainda tinha tanta coisa para dizer... Há dias em que a meia hora não chega.

21 de setembro de 2010

Ter. 21:46 - 22:16

The Monkeys. Conhecem? Parece que eles é que cantavam o "I'm a Believer" original. Não sabia. Tem uma certa piada. Não estou muito bem disposto hoje. Olha, e a versão mais recente é do(s?) Smash Mouth! Nice. Mas estava a falar da má disposição (e aproveito para falar da letra - caligrafia - que está o pior de sempre). Cenas do trabalho. Não é como vocês pensam. Não é um mar de rosas. Às vezes é difícil. É o que diz, mais cedo ou mais tarde, toda a gente que tenha emprego. Eu nem tenho razões de queixa, passo o dia sentado em frente ao computador, sem me mexer muito. No meu caso o problema são os clientes que pedem assistência técnica, esses sim, devem queixar-se que nem uns perdidos, que têm os clientes deles à perna, a ameaçar cancelar o negócio, e não podem fazer mais nada senão recorrer à famosa "pressão" ao fabricante. A vantagem que eles têm e eu não é exactamente essa, a de "passar a bola" para outro. Mas a mim as bolas caem-me todas em cima e eu não tenho a quem as passar, tenho de tratar de todas elas sozinho. Enfim, às vezes parece que estou enterrado no meio das bolas, hoje é um desses dias. É só um desabafo. Ya, acho que isso vocês perceberam. Mudando de assunto, não gosto muito deste café. Não mencionei isto antes mas ando a percorrer os diferentes cafés da cidade para escrever este blog. E tenciono continuar a fazê-lo por uns tempos, quero explorar todas as possibilidades. Apesar de tudo, sou um bocado esquisito quando toca a escolher cafés para escrever. Não gosto deles muito cheios nem completamente vazios, e ambos pela mesma razão, porque tanto num como noutro há maior probabilidade de ver gente a olhar para mim com ar desconfiado. Gosto dos sítios pacatos, que não estejam a abarrotar mas que mostrem mesmo assim que têm clientela. E claro, tem que ter aspecto de café e não de tasca. Tenho-me sentado sempre mais ou menos a um canto mas espero desinibir-me um pouco mais nesse ponto. Neste café, por exemplo, foi estratégia que não resultou, fiquei do lado dos não fumadores e tudo o resto está do lado dos fumadores, e com o vidro entre mim e eles não consigo ver as pessoas. Mas a música não é má, é a da VH1, brings back memories. Há que tempos que não ouvia o Shaggy a cantar "It wasn't me". Falando no assunto, não percebo estas músicas que dizem que são de um gajo quando é outro que canta a música quase toda. Nem sequer sei quem é o outro, e ele até canta melhor que o Shaggy, Não é muito justo, pois não?

20 de setembro de 2010

Seg. 21:38 - 22:08

Nova caneta. Yes. A letra continua mais ou menos na mesma, mas ainda se percebe. Não acredito como é que ainda há pessoas que ouvem Nirvana hoje em dia. Vinte anos de música desde o tempo em que acabaram não vos chega? Pois hoje na caminhada passou um carro por mim onde iam a ouvir daquilo em altos berros. Não acredito que seja pessoal novo, cá para mim são trintões ou quarentões que querem voltar à juventude porque aquilo "Smells like Teen Spirits"! AH! AH! Isto vai ser bonito. Um pouco de meta. Começo a ver que falar do processo é provavelmente tão importante como falar do objectivo. E OK, talvez não deteste tanto o meta-blogging como disse ontem, o problema do meta é quando se torna um vício e não conseguimos falar de mais nada senão do blog em si. É verdade, posso ter mentido, uma das coisas a que têm que se habituar neste blog é que eu posso ser muito pouco coerente. Dizer algo num dia e o seu contrário no dia a seguir é perfeitamente natural, pelo menos para quem está a escrever quase sem pensar. Portanto, perseguindo o meu lema de despreocupação e a premissa de que não há regras, vou deixar o meta fluir livremente. Antes de mais, nunca acreditem quando vos dizem que não há regras. Na verdade apresentei este blog com uma única regra, só meia hora por dia, mas depois há uma carrada de regras não ditas que ficam implícitas. Por exemplo, a ausência de parágrafos, ao bom estilo saramaguiano que eu adoro. Atenção, não é falta ou excesso de vírgulas, o Saramago não fez isso, vão ler os livros dele como deve ser. O que havia eram conversas separadas por vírgulas e parágrafos gigantescos. Mas os pontos finais sempre lá estiveram, e o homem tinha razão, estava a tentar escrever como quem conta uma história falada. Acho que ele testava os limites da literatura e era genial por isso. Eu próprio tenho um sonho no que toca à literatura: escrever um romance daqueles de 300 páginas e começá-lo por algo que não tenha nada a ver com a história do romance. Tipo, escrever uma história sobre alguém que descobre que está preso num jogo de computador jogado com a sua mente, e ter de arranjar uma forma de acordar para a realidade, onde descobre que não é nada como tudo o que ele tinha vivido até então, mas começar por contar que eu tinha ido às pirâmides do Egipto e tinha achado que aquilo não tinha piada nenhuma e não passava de um monte de pedras. Ui, a meia hora passa num instante quando estamos inspirados. A experiência de escrever em cafés está a tornar-se interessante. Digam o que disserem, há sempre gente bonita onde quer que a gente vá. Há sempre algo interessante para observar. Nem que seja uma miudita de três anos que passa o tempo a andar à volta da mesa onde os pais e os amigos deles estão sentados. A maneira como olham para mim é algo estranha, e ainda não sei muito bem como me comportar. Um dia, provavelmente, alguém virá ter comigo e perguntar-me o que é que eu escrevinho tanto, e nessa altura dir-lhe-ei que pode lê-lo, é tudo passado para o blog. See you next time.

19 de setembro de 2010

Dom. 21:22 - 21:52

Antes de mais: não sei se isto vai resultar. Quanto mais penso na ideia de o fazer mais estranho e esquisito me faz parecer. Por isso vou fazer o teste, enquanto der, e esperar pelo melhor. Here's the deal: fazer uma caminhada durante a noite, abancar num café e escrever durante meia hora. São estas as regras. O que vou escrever, não sei, não é suposto saber aliás, a ideia é escrever tudo o que me vem à mente, escrever sem parar, porque afinal, só tenho meia hora. Algumas vezes vou fazer sentido, muitas vezes não, a maior parte das vezes vou começar por um assunto e meter-me por outro assunto pelo meio, deixando o primeiro assunto por acabar. É meia hora de escrita, por isso é como se dissesse que o que conta é a quantidade, e não a qualidade. Faz parte da minha terapia, ou melhor, o que faz parte da terapia é a caminhada, a escrita fui eu que acrescentei, e se por um lado parece estranho aparecer um gajo no café a escrevinhar desesperadamente num Moleskine durante meia hora, então mais estranho ainda seria ele passar essa meia hora no café simplesmente a olhar para o ar. Por isso, parece-me que até certo ponto, a escrita valida a estadia no café, por estranho que isso pareça. Tenho de confessar uma coisa, detesto meta-blogging. Meta-blogging é quando começamos a escrever sobre o blog em si, em vez de escrever sobre outra coisa qualquer. Quando criei o meu blog oficial gastei uma carrada de posts a escrever sobre como é que o blog ia ser, em que língua o ia escrever, porque é que o ia escrever nessa língua, do que é que ia falar, blah, blah, blah, etc. Posts que depois apaguei, felizmente. Por isso espero que este seja o primeiro e último post em que falo do blog em si, embora na verdade não possa ter a certeza disso, pois pela definição do blog, quando me sento para escrever não sei à partida sobre o que é que eu vou escrever. Mas hoje, no primeiro post, sinto que tenho de o fazer, para explicar as regras do jogo. Há algum interesse em que esta seja uma escrita despreocupada, sem qualquer assunto dominante, no limite que eu me sente para escrever sem a mínima ideia de como começar. O interesse, por sua vez, é irónico, porque demonstra preocupação, como posso preocupar-me em ter uma escrita despreocupada? E se por acaso achar que não está a ser despreocupada o suficiente será que vou ficar ainda mais preocupado? Enfim. Voltando à parte de sentar-me sem ideia do que vou fazer, apesar de tudo é um bocado difícil, (e, no final de contas, pode até ser vantajoso). Porquê? Por causa da caminhada anterior, durante a caminhada a minha mente fervilha de coisas para escrever. Bem, como disse, isso é capaz de ser bom, apesar de tudo, porque não quero passar meia hora com um writer's block. De qualquer forma, as histórias com assunto têm um sítio próprio, que é o blog oficial. Este não é um blog oficial, é um blog semi-oficial, que ficará disponível mas meio escondido, com um linkzinho na minha página do Facebook e nada mais. Não é um blog que se recomenda, é um blog que se descobre por acaso, e onde só fica quem gosta e quem tem curiosidade de saber mais. É sem dúvida algo mais íntimo, espero que não seja íntimo demais, para não assustar ninguém, mas dadas as regras do jogo, nunca se sabe. Foi a minha primeira meia hora, e a minha primeira resolução é arranjar uma caneta decente para as meias horas que se seguirem.