8 de janeiro de 2014

Qua. 15:32 - 16:02

Uma coisa que não me tem saído da cabeça nos últimos tempos é que, normalmente, as razões que nos levam a terminar uma relação não são as mesmas que nos levaram a iniciar a relação em primeiro lugar. Eu passo a explicar: ela decidiu a certo ponto que ele não era a sua cara-metade porque ele era muito teimoso e ciumento. Mas se ela não gosta de teimosos e ciumentos, estas características não deviam fazer parte da lista de características a não considerar na procura pela sua cara-metade? Ou se ele se apaixona por ela porque ela é linda, atraente, inteligente e engraçada, porque é que essas características não têm o seu peso na hora de decidir salvar ou não salvar a relação? Há várias formas de abordar este problema. Podemos, por exemplo, dizer que precisamos tanto das características físicas como das psicológicas, mas as físicas aparecem primeiro e as psicológicas levam mais tempo a perceber. Mas ao mesmo tempo isto indica que não há um esforço para perceber as características mais importantes, as que determinam se a relação tem futuro ou não, logo no início da mesma. Será completamente impossível? A questão principal, a meu ver, reside na presunção de adaptabilidade. Depois de escolhida a nova cara-metade pelas características iniciais, pressupõe-se que haverá no futuro uma adaptação às características determinantes menos desejáveis: ou o objecto do nosso desejo se adapta de modo a minimizar os seus defeitos (tal como vistos por nós), ou nós nos adaptamos de forma a poder conviver com esses mesmos defeitos. Toda a gente sabe que não há pessoas perfeitas, pares perfeitos, e por isso que alguma adaptação é sempre necessária. Mas numa altura em que o limite da tolerância à adaptabilidade tem vindo gradualmente a descer (o que se nota pelo número crescente de separações e divórcios), talvez fosse altura de começar a minimizar essa presunção de adaptabilidade logo de início, e arranjar uma forma de escolher alguém com as características determinantes (em vez das iniciais) adequadas. Vendo o problema do outro lado, pergunto-me porque no momento em que se torna insuportável viver com a outra pessoa, as razões que nos levaram a apaixonarmos por ela deixam subitamente de ter importância. É pouco provável que as características iniciais da pessoa se alterem significativamente com o tempo, ela continua a ser linda, atraente, inteligente e engraçada como era antes, mas isso agora não interessa porque descobrimos que é coscuvilheira e intriguista. Por isso o melhor é terminarmos com esta e tentarmos novamente com a próxima rapariga linda, atraente, inteligente e engraçada que nos aparecer à frente.

10 de março de 2012

Sáb. 19:04 - 19:34

Por onde é que eu começo? It's been a while. Again. Já todos os que lêem a meia hora devem saber por outros meios (facebook, blog oficial) que me mudei outra vez, para a Alemanha desta vez. A Alemanha não é muito diferente de Portugal, é um bom sítio para se viver, com a pequenina diferença de que eu não percebo uma palavra do que as pessoas dizem. Minto. Depois de três meses aqui já consigo apanhar uma palavra ou duas, mas a probabilidade de eu entender duas palavras na mesma frase é para aí de um por cento. O raio da língua é realmente esquisita, e quanto mais aprendo mais esquisita a acho. Depois de descobrir - e reportar - que eles viram as frases do avesso, colocando o verbo no início e o sujeito no fim,  descubro agora que eles têm verbos chamados "separáveis", em que partem a palavra ao meio e metem o sufixo no princípio da frase e o prefixo no fim. É caso para dizer, é preciso complicar a coisa ainda mais? What were they thinking? Como diria o Obélix, estes germanos são doidos. Mudando de assunto. É só a mim que me irrita quando as pessoas dizem "Minto" depois de se aperceberem que se enganaram? É como se estivessem a mentir de propósito, e depois dizem que estão a mentir só para gozar com a nossa cara. Eu dei um exemplo ali em cima, mas esse foi de propósito para ilustrar o problema. Enganar-se não é mentir, pelo menos não na minha opinião. Mentir é dizer uma mentira estando consciente de que é uma mentira. Se se enganaram, se querem corrigir o que disseram, digam "Enganei-me". Digam "Não é bem assim". Não andem por aí, por favor, a dizer às pessoas que estão a mentir. Mentir é muito feio, sabiam? E bem, ainda tenho tempo por isso resta-me descrever o ambiente. Vim parar ao meio do centro comercial, numa esplanada interior muito confortável. Apetecia-me ver muita gente. Tenho andado uns tempos a escrever em casa mas tinha saudades de escrever lá fora. É completamente diferente. A esplanada não está cheia, tem para aí uns 30% de ocupação. Mas há pessoas a passear pelo centro comercial, para um lado e para o outro. Ninguém de especial, a não ser a mais nova das empregadas do café que há pouco olhava muito para mim. Hummm... estranho.

15 de outubro de 2011

Sáb. 15.38 - 16:08


Não sei se isto hoje vai resultar. Da última vez que tentei não resultou, acabei por escrever um artigo do blog oficial. De qualquer forma tenta-se outra vez, alguma vez há-de dar. Point in question: estou no café, mas desta vez larguei o moleskine do costume em favor do meu novo MacBook. Para já não é bem a mesma coisa. A Internet que vem-me parar ao computador vinda sabe-se lá de onde é uma distracção. Por outro lado, a janelazinha do Twitter aqui ao lado talvez sirva de inspiração... ou serviria se a Internet não se tivesse desligado e a janela esteja sem actualizações. O tema de hoje é: coisas que para se conseguirem é necessário que não se pense nelas. O exemplo mas óbvio é o amor, que tenho andado a dizer repetidamente há bastantes anos que é como um miúdo que joga connosco às escondidas: enquanto continuarmos à procura dele ele permanecerá escondido, mas se o ignorarmos mais tarde ele próprio virá ter connosco. Mas atrevo-me a estender isso a tudo o que é interacção social. O tema é um corolário de uma lei que poderia vir do próprio Murphy: quanto mais te esforçares para que um evento social te corra bem, mais mal ele te correrá. O corolário é que se tens um objectivo social qualquer para cumprir, o melhor que podes fazer é esforçares-te ao máximo por ignorar por completo esse objectivo. Assim as tuas acções parecerão naturais e não forçadas, e as pessoas gostarão mais de ti por mostrares quem tu és, em vez de tentares desesperadamente fingir ser outra pessoa qualquer. Será então mais fácil cumprir o teu objectivo, seja ele qual for. Faz sentido para vocês? Faz? A sério??? Então talvez me possam explicar qual é a diferença entre isso e não ter objectivo nenhum. Afinal nós queremos aquela coisa. Tipo, queremos mesmo aquela coisa. Vamos continuar a agir como se não a quiséssemos, para que ela nos seja dada? Quer dizer então que ela ser-nos-ia dada mesmo se não a quiséssemos no início? Dizem que tenho a minha mente muito formatada em termos lógicos, por isso é natural que não perceba como isso funciona. É como se a melhor forma de arranjar um emprego fosse ir a uma entrevista e falar do tempo, do golo anulado do Benfica e do dinheiro que os nossos políticos nos andam supostamente a roubar.

13 de agosto de 2011

Sáb. 00:10 - 00:40

Uau exactamente a mesma hora que da última vez! What are the odds of that? Anyway. Pergunto-me porque será que as mesmas atitudes que nós tomamos e que são toleradas por pessoas que conhecemos bem podem assustar pessoas que estamos ainda a conhecer. Dou-vos um exemplo. Cheguei a perder uma proto-amizade e quase fiz o mesmo com uma segunda quando mandei uma piada um pouco mais atrevida. A questão é que uma pessoa que conheça bem, aliás, não precisa de ser bem, é apenas minimamente, sabe que eu digo estas piadas, e que as digo sem qualquer malícia (é geralmente quando faço trocadilhos com as palavras porque as interpreto muito literalmente - acho que já escrevi sobre isso). Não se vai assustar com isso. Vai-se rir. Então o que aconteceu com as pessoas que se assustaram? OK, não tenho bem uma resposta para essa pergunta, uma série de conjecturas talvez. Há a hipótese de não sermos compatíveis, de todo mesmo. Mas eu contesto essa hipótese, afinal grande parte dos nossos amigos não são necessariamente compatíveis connosco. Não têm os mesmos interesses. Não dizem as mesmas piadas que nós, e alguns deles nem sequer gostam das nossas piadas, mas não se assustam. São amigos porque fomos ou somos colegas de escola, ou de trabalho, ou porque o meu melhor amigo agora namora com a melhor amiga dela. Mas OK, vamos andar para trás um bocadinho, porque realmente no contexto em que conheci as minhas proto-amigas, talvez se esperasse ir um pouco além da amizade. Portanto, agora que repus o contexto, digamos que uma pessoa ao conhecer outra tenta sempre dar de si o seu melhor ao mesmo tempo que espera o pior do outro. Por isso qualquer falha detectada no outro é imperdoável. O Seinfeld terminou um namoro porque ela comia as ervilhas uma a uma, for god's sake! O ser humano evoluiu assim de forma a mostrar primeiro o máximo das suas qualidades e esconder tanto quanto possível os seus defeitos, até chegar ao ponto de não retorno. Aí já não há problema em mostrar os defeitos porque já passam a ser toleráveis. Por isso é que há tanto casamento desfeito ao fim de quatro ou cinco anos, e por isso é que no desfazer do casamento todos recordam aquele tempo em que só havia qualidades. Mas lembrei-me de outra, a melhor solução para este problema ainda é capaz de passar por uma análise estatística. Simplesmente, o período de amostragem é muito baixo. Se eu faço asneira em 10% do meu primeiro encontro, ela vai pensar que vou fazer 10% de asneiras toda a minha vida. Sempre é mais de meio dia por semana, ainda é um bocado. Só quem espera tempo suficiente para ver é que consegue descobrir se os 10% estão na média ou se são só um outlier.

7 de agosto de 2011

Dom. 00:10 - 00:40

"Just because it feels good, doesn't make it right." Hum, não, acho que se enganaram. O original devia ser "Just because it feels good, doesn't make it easy". Mas suponho que "right" tem melhor sonoridade, não sei. Hoje vim para a esplanada do Irish de Coimbra, de moleskine em punho, à espera que isso me faça parecer inteligente. Solitário, mas inteligente. Digamos que o raio do moleskine também ajuda, obriga-me a estar aqui pelo menos meia hora, e de certa forma é a minha companhia, estar sozinho a olhar para o ar é uma coisa (na verdade encontrei um gajo sozinho a olhar para o ar e não me pareceu assim tão mal), e estar sozinho a escrever o que até pode ser um grande romance (eles sabem lá...) é outra completamente diferente. Na última conversa com o psi fiquei com trabalho de casa, tentar perceber porque são tão difíceis para mim coisas aparentemente banais como falar com desconhecidos, e que circunstâncias especiais me fariam mudar de ideias e avançar. Hoje é um bom dia para começar com esse trabalho de casa, há uma rapariga numa mesa mais afastada que é gira como o caraças, mesmo o meu estilo (sim, eu tenho um estilo), e eu estou a perguntar-me porque não me levanto da minha mesa e me vou sentar na mesa dela. Vamos começar? Ah, espera ainda falta uma coisa. Ela também já me viu, olha para aqui de vez em quando e já me apanhou a olhar para ela. OK, podemos começar agora. Bem, para já, está acompanhada, por uma amiga. Embora não saiba bem se isso é uma razão ou não, há bocado esteve sozinha por uns tempos e isso não me encheu de coragem para lá ir. OK, talvez não haja nenhum tipo de razão que me convença a ir lá. Acho que simplesmente nunca lá iria. O psi perguntou-me o que diria se tentasse falar com uma desconhecida que encontrasse ao meu lado no balcão. E eu falei de uma história elaborada sobre perguntar-se se isso de estar ao balcão à espera que conversassem com ela era mesmo real ou era coisa que só aparecia nos filmes americanos. Ele ouviu falar em filmes americanos e torceu o nariz, disse que pessoalmente não gostava, mas ainda antes de eu lhe dar a minha resposta ele sugeriu a dele: "Vem cá muitas vezes?" E eu pensei "Vem cá muitas vezes?! Que raio de pergunta é essa? Essas perguntas pá-tá-ti, pá-tá-tá resultam mesmo? Então e se ela disser simplesmente que sim ou que não? Não é melhor ter já uma história inteira preparada?" Tão ingénuo que ele é, pensam vocês. Eu sei. Pensando bem no assunto, "Vem cá muitas vezes?" até é capaz de resultar. É simples o suficiente e apela a que ela fale de si própria. E se disser simplesmente sim ou não, posso eu começar a dizer se eu venho cá muitas vezes ou não, e porquê. Não é propriamente de génio, mas é pretty good. Pretty, pretty, pretty good. OK, Jota, tem que haver uma maneira de falares com ela. Imagina que no final sais daqui a conversar com ela. O que é que aconteceu entretanto? Acho que só vejo uma hipótese: ela veio falar comigo. Ya. É isso. Mas... não é muito comum isso acontecer, não é? Quer dizer, com os outros rapazes isso não acontece. OK, outra hipótese: nós até estivemos a fazer uma troca de olhares, mas eu nunca cheguei a perceber até que ponto ela estava interessada. Talvez se retribuísse o olhar com um sorriso. Ou desse qualquer outro sinal de que estava interessada. Não é fácil, eu sei, porque eu não entendo os sinais todos, mas se ela acertasse em algum que eu soubesse... Depois acho que conseguiríamos conversar à distância e por gestos, ou mesmo só olhares, e aí sim, eu saberia que tinha luz verde. Talvez houvessem outras coisas que pudesse tentar, mas terei que as descobrir noutro dia. Entretanto ela e a amiga foram embora, ela ainda olhou para trás e os nossos olhares cruzaram-se para aí uns dois, três segundos. E depois desapareceu. A meia hora já acabou há algum tempo, mas se eu não contar a ninguém vocês também não contam, pois não?