25 de novembro de 2010

Qui. 21:18 - 21:48

Consegui! Apesar do frio que antecede a respectiva vaga que os meteorologistas "dão" para os próximos tempos, consegui arranjar forças para vir até ao café. Parece que a meia hora de escrita ainda vai sobrevivendo, apesar de aparecer menos vezes. A caminhada ao frio é revigorante, é uma forma saudável e económica de aquecer, sem usar lareiras nem aquecedores. Apesar de me ter arrastado até cá, hoje não tenho assunto, a caminhada não me inspirou assim tanto (terá sido por causa do frio?) e até estive para não puxar do moleskine e da caneta, mas de que outra forma me podia aguentar mais de cinco minutos no café? A escrita nos cafés até tem as suas vantagens. Não tendo mais nada para dizer, resta-me descrever a paisagem, tanto aqui como na caminhada que se antecedeu. Aqui o ambiente é excepcionalmente calmo, só o empregado do café e uma rapariga no outro canto da sala que tecla furiosamente no portátil. De vez em quando sorri enquanto escrever, por vezes numa quase micro-expressão digna da série Lie To Me. Gosto de ver pessoas que sorriem quando estão sozinhas, ou neste caso em frente a um monte de letras mas sem uma pessoa física com quem possam conversar. Os sorrisos solitários são completamente genuínos, porque não há ninguém à volta a quem os dirigir, ninguém que esteja lá para os julgar. As pessoas sozinhas não têm propriamente incentivos para sorrir, não estão a tentar agradar a ninguém, não têm a necessidade de mostrar a ninguém que estão contentes, e por mais sincero que seja um sorriso entre amigos, essa sinceridade não se compara à de um sorriso solitário. Por isso, resta-me deduzir que se as pessoas sorriem quando não está ninguém a ver, é porque se sentem realmente felizes nesse momento. E isso é de admirar. Moving on: parece que há outra sala onde as coisas estão mais animadas, porque o pessoal que aparece vindo de lá fala como se estivesse na discoteca. Mas quando não estão, o silêncio é total (descontando a música de fundo) e eu quase apostava que a menina sorridente do outro lado da sala me ouviu a colocar o açúcar no café. As noites frias são assim: tudo muito calmo, pouca gente na rua, mas ainda alguma; pessoas que passam por nós e dizem boa noite, mesmo sem nos conhecer de lado nenhum. Menos carros na estrada, menos barulho na rua, mais velocidade nas pernas para aquecer. O meia hora de escrita de Inverno é isto, meus amigos.

21 de novembro de 2010

Dom. 11:30 - 12:00

Aqui está outra primeira vez na história deste blog. Ontem o empregado de mesa do café meteu-se comigo por causa da minha escrita. "Vê lá, não escrevas muito, hã?" Achei piada. Fez-me lembrar os empregados de mesa chicos-espertos, aqueles que dizem "copo de água, ou copo com água?" Mas devo dizer que a chico-espertice não é exclusiva dos empregados de mesa. Para já, também há clientes de restaurante chicos-espertos. São aqueles que dizem, no final da refeição, "É páááá, estou aqui tão bem que nem me apetece pagaaaarrrr!" Das primeiras vezes que alguém disse isso, há 20 ou 30 anos atrás, até tinha piada. Agora é só chico-espertice. Depois há um tipo de pessoas que são naturalmente chicos-espertos, independentemente da sua profissão. São aqueles que fazem trocadilhos com tudo, tantas vezes que se torna inconveniente. Com estas pessoas não se consegue ter uma conversa normal, porque eles fazem trocadilhos com coisas com banais como falar do tempo (por exemplo, "Hoje está bom mas deram chuva para amanhã" - "Dar não deram, devem é tê-la emprestado"). Eu admito que eu próprio tenho a minha dose de chico-espertice, mas é porque a minha pseudo-Asperger me faz levar as expressões à letra e sim, vejo trocadilhos onde os outros não vêem. Já tinha escrito no blog oficial que um programador como eu, se o abordarem na rua e perguntarem "Tem horas que me diga?", pode simplesmente responder "Tenho" e ir-se embora. Talvez eu não seja inconveniente a esse ponto, mas é porque já percebi que a maior parte das vezes as pessoas não entendem, e é frustrante estar a explicar a piada. Por exemplo, na expressão escrita irritam-me os erros de ortografia dos outros, e se, por exemplo, alguém me perguntar no messenger "Então, já chegastes?" eu posso responder "Sim, já chegámos." Mas depois do outro lado perguntam "Já chegaram? Então quem é que está contigo?" e eu tenho de explicar que sou só eu, e que só escrevi "chegámos" em vez de "cheguei" porque na pergunta escreveram "chegastes" em vez de "chegaste". É frustrante. Mesmo assim, às vezes ainda o faço, porque os erros de ortografia, ainda mais os que são feitos de forma sistemática, irritam-me solenemente. E nem me façam falar do "fizes-tracinho-te" que é provavelmente o erro ortográfico mais irritante da história da língua portuguesa. Têm vocês muita sorte porque a meia hora acabou, senão...

20 de novembro de 2010

Sáb 13:32 - 14:02

Ontem fiz uma coisa. Acho que perdi a cabeça, as memórias estão meio enevoadas porque ainda não consegui descobrir como aquilo aconteceu. Ontem estive num bar com um grupo de pessoas, bebi uns copos, dancei um bocado, cheguei a casa às quatro da manhã, meti-me no Facebook e convidei uma rapariga para sair. E mesmo agora que leio o que acabei de escrever só me apetece perguntar-me a mim mesmo, are you out of your mind? É a primeira vez que faço isto, convidar uma rapariga para sair, sem sequer a conhecer muito bem, sem estar obcecado por ela e sufocado pela minha obsessão. A minha pseudo-Asperger ainda não me permitiu que o fizesse directamente no bar, teve de ser pelo Facebook, suponho que a abordagem directa esteja num nível mais avançado. Bem, e agora que está feito, estou oficialmente aterrorizado. Passam pela minha cabeça as milhentas coisas que podem acontecer a seguir, e o que me mete mais medo não é a possibilidade de ela responder que não, porque nesse caso volto para o meu mundinho, onde sei onde está cada coisa, e porque é suposto que eu falhe muitas vezes antes de conseguir acertar. Não, o meu medo é se ela diz que sim, oh meu deus, se ela diz que sim o que é que eu faço? O que acontece a seguir é uma incógnita, não o consigo prever, não o consigo antecipar. É o medo do desconhecido que dá cabo de mim. Pode até chegar a destruir aquilo que eu sou neste momento. Se o João das relações entrar por aquela porta, ele matará o João independente. Os mundos colidem! O pior é que ainda por cima acho que até tenho boas hipóteses. O ambiente no bar estava muito bom, a mensagem era simples, gira e straight to the point... mas nestas coisas de mensagens escritas também acho sempre que sou melhor do aquilo que sou. Afinal, as estatísticas estão aqui para me derrotar, tens de tentar várias vezes, tens de falhar várias vezes antes de conseguires acertar. Quer dizer, ninguém consegue uma coisas destas na primeira vez em que tenta, certo? Certo? Bem, resta-me dizer que a desvantagem de usar o Facebook para este tipo de coisas é a espera. Quer dizer, sabe-se lá quando ela vai ver a mensagem, sabe-se lá se vai responder sequer, enfim, alea jacta est, vini, vidi e espero que vici, e ave cesar morituri te salutant.

14 de novembro de 2010

Dom. 12:03 - 12:33

Chegou o frio e a chuva e está a tornar-se cada vez mais difícil sair à rua para escrever. Não tenho tido grandes hipóteses, a chuva impede-me de ir caminhar para a rua, e o frio fomenta a preguiça. Já para não falar de que, mesmo estando bom tempo na altura em que saio para a rua, não imaginam o quão drasticamente o tempo muda em meia hora, saio de casa com um sol radioso ou uma noite estrelada, e volto para casa todo molhado. Com isto tudo já pensei em quebrar uma das duas regras que ainda se mantêm neste blog, a de só escrever em sítios públicos, mas para já ainda me vou aguentando. O tema de hoje é: pessoas que eu conheço de algum lado mas não sei de onde. Já é a segunda vez que isto me acontece, eu conhecer a pessoa mas por mais que tente lembrar-me de onde é que a conheço não consigo. Não é nada mais que natural, vivendo numa cidade pequena como Cantanhede, frequentando os mesmos sítios, há algumas caras que aprendemos a reconhecer, mesmo que nunca tenhamos sido formalmente apresentados. O problema é que, tirando essas pessoas dos locais onde normalmente as vemos, tirando-as do seu próprio contexto, ficamos desnorteados, a cara é familiar mas sem o respectivo contexto não podemos fazer mais nada com essa informação. E às vezes não é só o local onde as vemos que nos permite reconhecê-las, por exemplo as empregadas do restaurante onde eu vou almoçar ficam quase irreconhecíveis depois de despirem o uniforme e soltarem o cabelo. O meu primeiro caso foi uma nova caixa do supermercado que me reconheceu e me disse olá. Raios me partam, eu conhecia a rapariga, mas de onde? Percorri mentalmente todos os sítios que costumo frequentar, e cheguei a pensar que ela fazia parte do grupo de pessoas que fizeram o crisma comigo. Só depois de ver a foto de grupo do crisma e constatar que ela não estava lá, comecei a pensar noutras hipóteses e então lembrei-me que ela tinha trabalhado na pizzaria do qual sou frequentador mais ou menos assíduo. Quanto ao meu segundo caso, bem, não há muito a dizer, reconheci-a no ioga, e acho até que ela me reconheceu também, mas, apesar de ter várias hipóteses, ainda não consegui descobrir de onde é que a conheço. Neste caso, não vejo outra hipótese senão perguntar-lhe directamente...