Havia muito mais para falar de ciência e religião e livros escritos há milhares de anos mas para já vou ficar por aqui. Mais tarde voltarei à carga. Normalmente nos meus registos tenho tendência para me indignar com as coisas (o blog oficial é quase um compêndio de indignações) e por vezes tenho a necessidade de lighten up e take it easy. Ontem estive a tomar conta da minha sobrinha de um ano e notei uma coisa engraçada nos bebés. Parece ser um facto que a primeira palavra que eles dizem é efectivamente mamã (ou mais raramente, papá). Mas acho que é um engano os pais pensarem que a criança chama por eles, só porque eles repetiram essas palavras tantas vezes para ela. It's the other way around. Ou seja, para compreendermos isto temos de pensar exactamente do ponto de vista contrário. O Stephen Hawking (e outros, decerto) fala nos seus livros de um princípio antropológico, ou antropomórfico, já não me lembro bem do nome. É um princípio que se deve ter em conta quando fazemos perguntas como porque é que o Universo é como é, porque é que tem estas leis da física, porque é que permite a existência de vida, em suma, porque é que tem condições tão perfeitas para a nossa existência (isto tem um pouco mais de background, mas para já basta saber que se algumas constantes absolutas do Universo variassem em uma milionésima que fosse, o Universo como nós conhecemos já não existiria - e nós também não). E a resposta é que só essa conjuntura é que permitiu a existência de seres pensantes como nós que questionam o Universo. Isto é o mesmo que considerar que existem ou existiram uma infinidade de Universos, grande parte deles sem qualquer possibilidade de albergar vida, e por acaso um deles produz seres humanos, e esses somos nós. Temos de pensar ao contrário, nós não existimos porque o Universo é assim, o Universo é assim porque nós existimos. Da mesma forma, voltando aos bebés, se calhar o papá e a mamã chamam-se papá e mamã precisamente porque são essas as primeiras sílabas que o bebé consegue articular. Foi assim que os nossos antepassados lhes puseram o nome. Com a evolução dos tempos já nos esquecemos do que pai e mãe querem dizer e então imaginamos que o bebé começa a chamar pela mãe quando diz "mamamamama". Mas depois não estranhamos quando ele diz outras coisas que para nós são incompreensíveis (por exemplo, "aaaa... bu!"). Na mente da criança na verdade passa-se outra coisa: primeiro começa a dizer coisas sem significado como "mamamamama" e "papapapapa" e só mais tarde, depois de tanto ouvir coisas como "sim, a mamã já vem" é que pensam "espera, então aquela coisa que eu andei a dizer que não tinha sentido nenhum afinal é o nome daquela senhora que me vem consolar quando eu choro? Uau, que coincidência!" Por isso, papás e mamãs, da próxima vez lembrem-se que não foram vocês que ensinaram os vossos nomes aos vossos filhos: eles é que os ensinaram a vocês.
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