1 de dezembro de 2010

Qua. 11:55 - 12:25

O meu professor de ioga acredita mais na espiritualidade do que no método científico. E até goza um bocado com este, dizendo que nós precisamos de ouvir que alguma coisa está "cientificamente provada" para podermos acreditar nela. Suponho que para ele a medicina ayurvédica seja mais eficaz do que a medicina convencional, moderna e tecnológica. Tudo bem, não esperaria outra coisa de um professor de ioga. Mas irritou-me um bocado quando um dia destes ele se insurgiu contra os micro-ondas. Chegou a fazê-lo até num tom de ameaça e ironia, dizendo "Bem, eu não tenho micro-ondas em casa, agora vocês é que sabem, se quiserem morrer mais cedo..." Uma coisa é desconfiar de algo de tecnologia superior só porque não se sabe muito bem o que acontece lá dentro (ena, mete-se lá dentro, carrega-se num botão e aquilo aquece sozinho! Magia!), outra coisa é evangelizar essa desconfiança, esse medo do desconhecido, para um grupo de 30 pessoas. Está mais que provado (sim, "cientificamente" provado, acreditem ou não), que a radiação de micro-ondas não tem qualquer efeito nocivo sobre a comida, a não ser o efeito óbvio de a aquecer, por vezes demasiado se não tivermos cuidado. Para quê essa necessidade de assustar as pessoas? Imaginem que era ao contrário, que o micro-ondas já se conhecia há milhares de anos e que só agora se descobria que se podia cozinhar a comida num forno a gás. O que não diriam dos efeitos nocivos do gás sobre a comida, do calor excessivo, do potencial cancerígeno da comida esturrada... O fogo azul seria certamente obra do Diabo! Há duas coisas de que costumo desconfiar, no que toca a estas coisas da natureza e da espiritualidade. Primeira, o abuso da palavra "natural". Aceita-se tudo o que é natural e rejeita-se tudo o que é manipulado pelo homem. As lojas de produtos naturais apregoam-se a si próprias e aos seus produtos com o chavão do natural, dizendo subliminarmente que há uma forte probabilidade de que estes produtos não resultem (e assim convencendo os clientes a aceitar que assim seja), mas também não fazem mal a ninguém, porque são naturais. Sabem o que é que também é natural? Cannabis, que usada de forma errada pode alterar o estado mental, provocar alucinações e dependência. Sabem o que é que também é natural? Cogumelos venenosos, que basicamente matam quem ingerir nem que seja uma pequena porção. Depois esquecem-se que grande parte dos medicamentos é também baseada no que se encontra na natureza, eles simplesmente se limitam a retirar o que não interessa. E existem produtos como as delícias do mar que são totalmente sintéticos (embora baseados em produtos naturais) e, afinal, até fazem bem.

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